Rua onde morava o Américo Carvoeiro(jan/2010). Ele residia numa das primeiras casas.
Trazemos de volta um tema já falado outras vezes: Loucos Delmirenses. O texto veio à baila porque recebi um email bastante interessante enviado pelo Sr. Cliuton.
Pedimos ao leitor um pouco de paciência pois a postagem ficou bastante extensa. E o leitor em tempos de internet de banda larga é muito mais exigente e por vezes impaciente. No entanto, para perfeito encadeamento da história do famoso “Américo Carvoeiro” se faz necessário o resgate de trechos de postagens passadas.
Tudo começou quando no antigo blog onde o primeiro texto era:
DE MÉDICO E LOUCO TODO MUNDO TEM UM POUCO
Texto originalmente postado em: 14 de novembro de 2004.
E cinco anos depois resgatei o mesmo texto devido o bug que houve no primeiro blog fazendo sumir os comentários. Abaixo apenas parte do texto onde eu fazia referências ao personagem delmirese:
QUINTA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2009
Loucos Delmirenses
Texto de César Tavares
“Toda cidade tem algumas pessoas que fogem dos padrões “normais”, algumas delas são chamadas de loucas. No entanto cada uma delas tem uma história de vida. Geralmente desconhecemos a “origem de sua loucura”.
Na nossa infância ouvimos histórias a respeito dos loucos locais, e sentimos um certo temor destas pessoas. Há muita invencionice e folclore. Nada provado obviamente. Mas a tradição permanece e passa de geração a geração.
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AMÉRICO CARVOEIRO : Um senhor alto e barbudo. Suas roupas eram negras da fuligem do carvão que vendia. Fedia muito. Sua característica marcante era que ele tinha um excelente vocabulário. Falava muito bem. E não sei a veracidade. Mas ouvi muitas vezes minha mãe falar, que ele foi estudante de medicina. E que a sua loucura foi proveniente de uma desilusão amorosa! A sua figura metia medo na meninada. Ninguém mexia com ele. E quando passava pelas ruas, geralmente havia um certo temor da meninada.”
...
Então entre outros comentários o nosso leitor Pauríliofez o seguinte comentário:
Paurílio disse...
"Dos citados no texto, apenas me lembro de Bau e Américo Carvoeiro.
Bau era mesmo sujo, fedorento, não falava direito. - Américo Carvoei-
ro ou, como aprendi a chamar, Américo Doido, transmitia a nós, meninos da minha época, um certo terror. Seu aspecto era de meter medo a qualquer um que não soubesse que se tratava de pessoa pacata. Coberto de pó de carvão, dos pés à cabeça, vestes rotas, diziam que trocava de roupa uma vez no ano. Muitos garotos zombavam de Américo, gritando apelidos como: "engenho d'água", "pau de arara" e, como era de se esperar, ele reagia. Talvez até para tentar conter os meninos, muitos adultos contavam fatos sobre o Carvoeiro, por exemplo, dizendo que deu uma surra num garoto por ter este lhe jogado um desses apelidos e que tal garoto chegou a vomitar sangue. Creio mesmo que era mais lenda, apenas para amedrontar a garotada, evitando que se aproximasse do Américo.
21 DE NOVEMBRO DE 2009 21:33
E após algum tempo o Cliuton nos trouxe o seu comentário que a seguir reproduzo por aqui. Pois geralmente os leitores não tem por hábito (re)visitarem postagens mais antigas.
Cliuton disse...
"Senhor César, a história do Americo Carvoeiro não é bem aquela. Não teve nada de amor mal correspondido e nem ele estudou medicina. Naquela época, ele, ainda rapaz estudou em recife, mas apenas coisa de ginásio mesmo. Ele realmente falava bem. O que aconteceu com ele foi que, nos tempos das volantes, no meio das caatingas em perseguição à Lampião (ele e tantos outros eram contratados pela policia para ajudar na captura dos cangaceiros), muitas vezes tinham que tomar água contaminada, quente, de poços infectados etc. Numa dessas excursões ele pegou uma pneumomia pesada. Seu pai o levou a Paulo Afonso, ele se curou mas ficou com problemas mentais. O nome do seu pai era Manoel Livio, tinha uma loja (Loja do Povo) na antiga Rua do Progresso. Essa loja foi vendida ao Sr. José Vieira, pai do Dimas, que depois ficou com a loja por herança. Bem, eu e o américo, por parte de pai, éramos irmãos. Só que ele foi do primeiro casamento. Detalhe; o Américo tinha uma memória de fazer inveja, se ele te vendesse fiado, podes crer, mesmo sem anotar, não esquecer! Um abraço.
6 DE OUTUBRO DE 2010 22:31
E agora para o fecho da história trago o texto na íntegra recebido via email enviado pelo Cliunton
"Senhor César,
Estive dando uma olhada, no seu blog, sobre os loucos de Delmiro Gouveia e lá deixei um comentário sobre o Américo Carvoeiro. Como o conheci de perto, vou contar mais algumas curiosidades sobre aquele maluco. O Paurilio, lá, no seu comentário, falou que, certa vez, o Américo deu uma pisa num garoto e esse chegou vomitar sangue, mas, o Paurilio, acha que aquilo era só lenda. Era não! O cara matou o garoto mesmo! Seguinte; ele não mexia com ninguém se não mexessem com ele. Certa ocasião, um garoto o chamou de "engenho dágua", apelido que ele detestava, e ele bateu demais no garoto. Na época, o pai do Américo, bancou todo o tratamento da criança em Paulo Afonso, mesmo assim ele morreu. O pai do menino falou antes, que, se o filho morresse o Américo pagaria com a vida. O pai do louco falou pra o pai do menino que faria tudo pra salvar a criança, mas, se ele morresse, nem pens asse em fazer nada contra o Américo, pois este era maluco, o garoto é que mexeu com quem não devia! e daí pra frente... seria entre eles.
A roupa dele era muito suja sim, mas não lembro se fedia tanto. Acho que o pó do carvão funcionava como um desodorante natural (rsrsrs)! No dia em que ele tomasse um banho (coisa de uma vez por ano) vestia uma roupa nova, geralmente aquela mescla azul, precursora do jeans, calçava uma alpercata xô boi, nova, apregava pedaços de pneus nos solados e as amarrava aos pés com um cordão grosso, que ele arrumava com alguém, na fábrica. Só a tiraria dos pés no próximo banho! A unica pessoa que ele confiava era o Zé Maria, fundador do Cine Real e tambem comerciante na Rua do Progresso. Era este senhor que guardava o dinheiro dele. Além de "tesoureiro", era também o cara que comprava a roupa e a alpercata, quando o Américo pedia.
Também sou de Delmiro, estudei com o Argemiro, na Esco la Paroquial N. Sa. de Fátima, e depois no Grupo Escolar Delmiro Gouveia. Me diverti muito com as brincadeiras promovidas pelo então seminarista Didi, no pátio antiga igreja. Ainda morro de saudades da minha infância, ainda morro de saudades daquela bucólica Delmiro que não existe mais.
Um abraço,"
Cliuton Cavalcanti