Hoje teremos um post duplo entrelaçando o material enviado pelo nosso colaborador Paurílio Barbosa(do Recife) e um texto postado originalmente em 28 de dezembro de 2004 no primeiro blog da série Amigos de Delmiro Gouveia. O tema é o saudoso Dr. Ulisses Luna.
César,
Se vivo fosse, há três meses Dr Ulisses teria completado cem anos. Será que esse fato foi destacado em Delmiro Gouveia? Como não houve nenhum comentário no blog, é possível que a data tenha passado em branco. Bem que ele merecia homenagens, principalmente porque levou toda a sua vida ali na nossa terra, chegando a ser prefeito e, como já li em vários comentários, exercendo o mandato com muita honestidade. A foto que remeto foi tirada de uma revista, trazendo a transcrição da certidão de batismo do "inocente" Ulisses. Muitos dos que frequentam nosso blog passaram pelas mãos daquele médico. Portanto podemos dizer que prestamos a nossa homenagem àquela grande figura cuja vida e atos ficaram gravados na história da nossa terra.
Paurilio Barbosa
Abaixo texto de César Tavares publicado originalmente em 28 de dezembro de 2004
Dr. Ulisses Luna
Sempre tive a maior admiração por quem exerce o ofício da Medicina em cidades do interior. Ora está ali num consultório apenas o médico ouvindo atentamente o paciente.
E com isto ele tenta colher as variáveis do caso em questão e dar o seu diagnóstico. Não há como pedir a bateria de exames tão comumente solicitados pelos seus colegas de profissão dos grandes centros urbanos. E mesmo que pedisse que o paciente providenciasse isto, na maioria das vezes, ele o paciente, não dispõe de recursos financeiros para tanto. Então o doutor tem que ser preciso. Não pode errar. E tem que ser rápido e certeiro.
O post de hoje é para lembrar do Dr. Ulisses Luna. Um dos pioneiros no exercício da profissão em Delmiro Gouveia.
O Dr. Ulisses era reconhecido pela sua competência técnica. Inteligência aguda e senso crítico. No entanto era um tanto folclórico o seu comportamento passional. Seu jeitão irascível e tolerância zero com supostas asneiras proferidas pelos seus tantos pacientes. Ele não levava em conta, muitas das vezes, que o paciente poderia ser alguém meio matuto ou leigo.
Afinal quem nunca levou uma bronca dele? Quem não sabia do seu zelo quase neurótico pela preservação dos hábitos de higiene?
No seu consultório e residência ali no inicio da rua do ABC, em frente a sorveteria do Seu Conde, era famosa a cadeira do paciente. Ele com um tremendo medo que os pacientes ao falarem de seus males aspergirem perdigotos em sua direção, mandou chumbar lateralmente a cadeira do paciente a sua mesa. Nada de falar na direção dele. E se o paciente tentasse se virar levava um tremendo esporro na hora.
Outro fato curioso também era o seu carro. Um jipão.branco. Quando ele oferecia carona ninguém queria. As pessoas gentilmente agradeciam, mas dispensavam à carona. Também o coitado que aceitasse tinha que andar dentro do carro todo ereto. Não podia de forma alguma segurar na barra de proteção. Por que se o fizesse levava um grito no mesmo instante. O Dr. Ulisses assim como o Howard Hughes(um milionário americano famoso) morria de medo de contaminação por bactérias,vírus e bichinhos de natureza correlata.
Mas como alguém iria se conter ereto num automóvel sacolejando em ruas calçadas com paralelepípedos? Mais um dos insondáveis mistérios delmirenses.
O Dr. Ulisses era casado com a minha prima Leni. E algo engraçado eu ouvi em junho de 2002, quando em visita à cidade. Leni disse-me: “Lá em casa só entrou um refrigerante depois que o Ulisses faleceu”. Ele não admitia de jeito nenhum o consumo de coca-cola, fanta...Tudo isto para ele era puro veneno” Bem por aí se tira o radicalismo saudável do saudoso Doutor. Mas no fundo ele tinha razão. Ou não?
Particularmente sou devedor de grandes favores ao Dr. Ulisses. Ele cuidou da saúde dos meus familiares e até da minha quando criança. Afinal médico no interior naqueles tempos era pau para toda obra. Tinha que saber de tudo mesmo: Desde pediatria, passando por ginecologia, infectologia, cardiologia e todas as logias possíveis e imagináveis. Enfim ele seguia o juramento de Hipócrates ao pé da letra. E ao menos nos casos da minha família as suas indicações terapêuticas foram eficazes.
E achei mais do que justo a homenagem feita pela cidade, ao colocarem o seu nome num dos postos de saúde. E é sempre bom lembrar que a cidade de Delmiro Gouveia só existe porque foi graças ao pai do Doutor. O Coronel Ulisses Luna que no início do século XX acolheu o então fugitivo Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nas suas terras e deu total apoio aos empreendimentos do pioneiro. Bem isto é história real e pode ser lida em qualquer bom livro do gênero e não nestes rascunhos e arremedo de blog.
E aí você lembra de alguma história do Dr. Ulisses? Ele também cuidou da sua saúde? Ou de alguém da sua família? Você alguma vez provocou a sua ira? Ou o viu iracundo? Lembra-se de algum fato interessante ocorrido com alguém conhecido? Conte aqui. Partilhe a sua lembrança conosco.
28 comentários:
Adorei a história do Dr. Ulisses!!! Sujeito peculiar e marcante! Hehehehe. Imagino os coitados que um dia aceitaram a carona no jipe dele! =D
Ótimos causos. Gostaria de ler mais! ^^
Justíssima homenagem ao saudoso Dr. Ulisses. Deveriam na Semana Delmiro Gouveia 2009 render alguma honraria em sua memória, mas infelizmente quem se dedicou a construir a cidade, fica no esquecimento.
David
Ao pé da fotografia está escrito que a mesma é do acervo de Delmiro Luna. Creio que é filho do Dr Ulisses, tendo este, assim, prestado uma homenagem ao seu padrinho Delmiro Gouveia. - Uma curiosidade: no passado conheci uma senhora cujo nome era Maria Loureiro que residia na rua do comércio em DG, bem perto do casarão de Luiz Xavier. Seria ela parente do Dr Ulisses, uma vez que trazia o Loureiro da genitora dele?
Eu sei que o Dr Antenor Serpa foi médico da Companhia dona da fábrica. Havia um posto médico na rua 13 de Maio perto do hoje clube Vicente de Menezes, onde eram atendidos os funcionários da empresa. Não sei se ele atendia também em consultório particular. Como curiosidade, gostaria de saber se o Dr Ulisses também era da Companhia ou apenas tinha consultório particular na cidade.
César, excelente homenagem! Nunca poderá ser esquecido esse grande médico delmirense. Eu também já fui atendido por ele quando criança e realmente, havia muita recomendação para a hora de ficar frente a frente com ele, rsss. Mas eu hoje, pensando melhor, dou total razão ao Doutor. Inclusive tenho um pouco dessa saudável "mania" de higiene. Certa vez, minha mãe me achou meio raquítico e me levou até seu consultório, aguardamos um pouco e ele sempre assoviando (um assovio silencioso, mais assoprado do que musicado, pois não se ouvia nenhuma nota musical, rss) me examinou com seu estetoscópio, fez algumas apalpadelas, olhou dentro do olho, e disse a minha mãe que eu não tinha nada, era magrinho daquele jeito mesmo...rss...recomendou apenas um fortificante, acho.
Bem...
Vou contar mas não vou citar nomes...
Foi meu pai quem me contou, achei bastante engraçado.
Uma garota de aproximadamente 16 anos tinha "brincado de médico" com um rapaz e a família a levou para Dr. Ulisses examinar e verificar se a brincadeira tinha ultrapassado os limites. A garota deitou na cama e colocou as pernas pra cima na tradicional posição para exames ginecológicos. Dr. Ulisses começou a examinar quando, pra surpresa dele, ela disse:
- Doutor, não foi aí não. Foi alí.
E apontou mais pra baixo.
Ele deu um tapa na bunda dela e disse:
- Você já viu c* ter honrra? Sai daqui, sai daqui, sai daqui.
E botou todo mundo pra correr.
Rsrsrsrs.
Vou dar uma pista: O pai dela era barbeiro
Paurilio o posto médico que vc fala seria a antiga casa de saúde? Quando trabalhei na fábrica(1976/80)oDr. Ulisses atendia no ambulatário da mesma.
Parece que o antigo Cine Pedra foi reativado e será uma opção de lazer/cultura na cidade.
Qual tipo de película vão passar?
David
André, será que o fortificante que ele te passou não seria o CAUCIGENOL? Eu também já fui atendida por ele pois estava com uma barriga enorme, parecia aquelas crianças da Africa e não é que ele me receitou o tal PADRAKE que era remédio para lombrigas. Fiquei traumatizada com o resultado do medicamento e também do médico por um bom tempo. Cleide.
kkkk, Cleide, sinceramente eu não me lembro, mas que o gosto era bom, era,rsss. Agora, achei interessante a curiosidade nos tazida no post sobre o próprio Delmiro Gouveia ter sido seu padrinho de batismo!
David será que reativaram o velho cine Pedra? Ele já foi motivo de post no primeiro blog. Posso "ressucitar o post".
André e Cleide, vcs tiveram sorte por terem nascido ontem, já tomaram remédios com gosto de laranja, de groselha, etc. No meu tempo havia um remédio para lombriga, um tal de "tiro seguro", que quando a gente engolia, só faltava botar os bofes pra fora. Normalmente era tomado de madrugada. Quando nossas mães nos viam barrigudos, desconfiavam logo que estávamos com bicha na barriga. Então nos davam uma colher de açúcar pra assanhar as bichas e depois uma colherada do "tiro seguro". A seguir tínhamos que colocar na boca um pedaço de pão ou um punhado de farinha, para tirar o gosto horrível do remédio, pois se não fosse assim, lançávamos tudo pra fora. E ficávamos de resguardo por uns três dias, em casa, vendo o resultado. Esvaziávamos a barriga. Era um tiro seguro mesmo. Esse tal remédio só os antigos mesmo se lembram. Se Eduardo quiser consultar o pai dele sobre isso...
César, no meu tempo havia mesmo um posto médico da fábrica na 13 de Maio. A casa de saúde que você cita creio que era num casarão perto da fábrica que tinha na frente muitos pés de "figo".
"Tiro seguro" foi boa... hehehehe!!!
Cesar a reativação do tal Cine Pedra consta na programação do evento Semana Delmiro Gouveia, cujo vídeo de exibição na (re)inauguração é um documentário sobre a trajetória de um atleta local que foi várias vezes campeão no turfe nacional, chamado Juvenal Machado. Mas parece que o projeto de reativação é que o cine continue funcionando. Quem sabe alguém que esteja lá na cidade pudesse trazer mais alguma informação.
David
Paurílio, embora mais jovem, mas já tenho 41 anos,rsss. Acho que me lembro desse tal "tiro-seguro", acho que vi uma vez, nos anos 70, um vizinho botando lombrigas pela boca......rsss....arg, que nojo!
David, também fiquei durioso pela reativação do CINE PEDRA, posto que lá atualmente funciona da Rádio Delmiro FM. Como seria esse novo projeto?Quem tocaria o negócio?
O David perguntou que tipo de "película" seria exibido no Cine Pedra. O cinema de hoje não é mais o cinema daquele tempo. Portanto não existem mais as tais "películas". rs...
César, acredito que a foto do Dr Ulisses seja dos anos 30 e nessa época deve ter concluído o curso de medicina. - E arrisco até a faculdade que frequentou: Se estudou no Nordeste, deve ter sido no Recife ou em Salvador; a outra famosa era a do Rio de Janeiro. - Se considerarmos os conhecimentos médicos daquele tempo, podemos dizer que tinha razão o doutor quanto ao cuidado até no contato com as pessoas. Se hoje ainda impera a tuberculose, a lepra, imagine como era antigamente. Tais males hoje têm cura. No passado quem adquirisse tuberculose, era só aguardar a hora da visita da dona morte. Hoje, há vacinas para tudo praticamente, o médico tem seus métodos de proteção. Havia também a tal da varíola (a popular bexiga) que quando não matava deixava marcas profundas, era muito perigosa. Se olharmos desse modo, podemos entender o procedimento do Dr Ulisses até mesmo quando dava bronca em algum paciente. Ele tinha seus métodos para convencer alguém a respeito do zelo que deveria ter com saúde.
Como curiosidade, já que falei na varíola, no comentário anterior, quando eu era menino ia muito ao sítio da Broca, local afastado de Delmiro, na antiga estrada para Paulo Afonso. Fazíamos o percurso a pé, saindo da rua Rui Barbosa, tomando um caminho onde depois construiram um hospital. Bem antes da Broca, víamos à margem da estrada, duas covas fechadas com cimento, que se dizia serem "as covas dos bexiguentos". Eram de soldados do Exército provenientes de Maceió, com alguma missão, e em DG foram vítimas fatais da varíola. E nos diziam os antigos que ninguém podia abrir aquelas covas, por causa da doença que existia lá dentro. Com a expansão da cidade para aqueles lados, não sei o destino da cova dos bexiguentos.
Paurílio nos trazendo mais uma informação que até então eu nunca tinha ouvido falar. Mas dá vacina para varíola acho que até hoje todos ainda trazem as marquinhas da perfuração no ombro.
Bela informação histórica essa do Paurílio sobre os tais bexiguentos. Vc seria capaz de identificar hoje onde ficava esse local?
Parece-me que o Dr. Ulisses estudou na Bahia, salvo engano.
David
David, depois de tanto tempo, não tenho muita certeza quanto ao local das covas dos bexiguentos. Quando tomávamos o caminho para a Broca, passávamos primeiro na Craibeirinha, não sei se ainda existe esse lugar. Se não me engano, as covas ficavam antes da Craibeirinha.
Nesta foto, da conclusaõ do Ginário, foi Dr. Ulisses que me entregou o diploma, tendo ao lado Dr. Antenor, que também fazia parte da mesa. Ao meu lado, estava José Adauto, que foi meu padrinho,(funcionário dos Correios e casado com Gracinha de seu Zé LIma).Lembram dele?
Fui paciente também de Dr. Ulisses, e morria de medo ds brocas dele, preferindo o Dr. Antenor que era um verdadeiro cavalheiro rs..mas todos sabiam da sua competência técnica.
Adoentada, uma vez, aos 12 anos, diagnosticou em mim,uma apendicite aguda, tendo me encaminhaou de imadiato, para o hospital de Paulo Afonso, onde fiz cirurgia, e graças a ele, estou hoje aqui, pelo seu rápido e eficaz diagnóstico. Obrigada Dr. Ulisses!!!Muito justa a homenagem pela pessoa que o Sr. foi e representou para a comunidade delmirense.
Reiterando o que eu havia dito: de fato, o Dr. Ulisses se formou pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1933. E o Antenor Serpa também pela mesma faculdade, mas em 1929.
Por David
ADOREI A HOMENAGEM AO DOUTOR ULISSES EU JÁ FUI PACIENTE DELE LÁ PELOS ANOS 80/81: ESTAVA FALTANDO HOMENAGEAR E SENHOR HAMILTON SANT"ANNA CARDEAL TABELIÃO EU TIVE O PRAZER DE SER SEU FUNCIONÁRIO NOS MEADOS DOS ANOS 80/81. APRENDI MUITO COM ELE. SALDADES ETERNAS. JULIO COELHO
Fico muito feliz por esta homenagem dedicada ao ilustre médico Dr. Ulisses. Mas, neste momento, gostaria de homenagear a sua irmã, Maria Luna, mulher de muita coragem e dedicação à igreja de Nossa Senhora do Rosário. Chegando ao ponto de doar parte de sua herança na construção da mesma, contribuindo com um sonho do nosso querido Monsenhor Fernandes. Por onde anda esta mulher? Gostaria muito de saber? Sei apenas que mesma está se tornando uma centenária. Fica para vocês a pesquisa. Um grande abraço para este povo que tanto admiro da minha querida Delmiro Gouveia!
Eduardo Santos
Eduardo Santos: que eu saiba a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, localizada na Vila, foi construída em 1918 ou 1919, há controvérsias quanto a essas dantas nos documentos. Quem arcou financeiramente com a construção dela foi a senhora Marieta Iona, então esposa de Lionello Iona, sócio do Delmiro. A edificação e a arquitetura ficaram a cargo do engenheiro italiano Luigi Borella.
Quanto à Igreja da Praça da Matriz, começou a ser construída em 1955, mas só fora inaugurada em 1978.
David
Pesso desculpas aos amigos. Quando me refiro a igreja de Nossa Senhora do Rosario, estou me referindo exatamente a matriz ou paróquia. A capela é a igrejinha da vila, cujo as fotos nas quais pude ver, está muito bela, contornada por esta praça construda. Espero poder ter noticias de dona Maria Luna. Um grande abraço para todos.
Postar um comentário