4ª edição da parada da diversidade sexual do alto sertão - Delmiro Gouveia em 19/10/2009
A cidade de Delmiro Gouveia, conhecida nacionalmente pelo empreendedorismo de seu fundador, realiza no próximo dia 08 de novembro a partir das 14 horas na praça de eventos, a 4ª edição da Parada da Diversidade Sexual do Alto Sertão Alagoano. Com o tema Ser Cidadão é Ter Seus Direitos
O evento conta com o apoio da Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores, Ministério da saúde UNESCO, Fundação Delmiro Gouveia, Secretária da Mulher, Cidadania e direitos humanos, Rede Nordeste de Grupos LGBT.
Aproveito a oportunidade para resgatar mais dois textos postados nos primeiros blogs da série Amigos de Delmiro Gouveia.
Lembramos mais uma vez que os antigos blogs tiveram um bug nos seus sistemas de comentários que o provedor Globo não conseguiu resolver. E assim não aparecem mais na tela tudo aquilo que os leitores traziam de informações e que movimentavam o espaço. Os antigos comentários são visíveis apenas no gerenciador ao qual apenas eu tenho acesso. Os comentários ficam armazenados. Mas não fica o nome de quem o fez.
Mas vamos ao que interessa:
Um Certo Zé
Falar sobre pessoas que obtiveram destaque no cenário social delmirense é fácil. Há muita gente talentosa. E certamente isto será falado por aqui no momento oportuno.
No entanto toda cidade tem seu lado underground. E seus personagens meio que execrados pelo senso comum mais conservador. No entanto estas pessoas fazem parte do acervo de recordações. E não acho justo esquecê-las.
E com a cidade de Delmiro Gouveia, não é diferente. Por isto este post é dedicado a uma dessas pessoas: Zé Mulher.
Zé Mulher era uma pessoa corajosa. Corajosa mesma. Porque alguém há 30 anos atrás em pleno sertão das Alagoas se assumir homossexual era um ato de ousadia e desafio. Pura coragem. Coisa para macho nenhum botar defeito.
Era um sujeito magro, moreno e meio calvo. Não tinha ares e nem jeito feminino. Carregava sim nos trejeitos e num andar meio rebolado e um tanto forçado. Lembro dele andando pelas ruas com passos rápidos, sorrindo e acenando para todos. Sempre havia alguém metido a engraçadinho a soltar um gracejo para ele. Mas ele respondia numa boa. E até gostava que mexessem com ele. Fazia parte do jogo de cena.
Costumava usar umas calças compridas desta bem justa no corpo, blusa em cores berrantes e com a barriga de fora e calçava uns tamancos. Ou seja, era algo caricato aos nossos olhos provincianos. Mas os leitores hão de concordar. Alguém se vestir assim naqueles tempos era negócio para cabra muito macho não?
Não sei em que ele trabalhava. Parece-me que costurava. E também que era um filho muito dedicado e cuidava bem de sua mãe. Também não sei em que rua morava. Talvez para os lados da Freitas Cavalcante.
Bem os anos passaram. E na última visita que fiz à cidade perguntei por ele. Disseram-me que havia morrido. Não perguntei de que.
Meu primo Tadeu Mafra, fundador do Bloco do Pompeu, grupo onde homens, cabras-machos mesmos saem vestidos de mulher pelas ruas delmirenses, contou-me que nos últimos anos de vida do Zé-Mulher sempre o convidava para ser destaque do bloco. Uma justa homenagem.
E foi o meu primo quem me cedeu a foto onde podemos ver este personagem delmirense. Pena que na fotografia vê-se o Zé já um tanto cansado e abatido. No entanto nas minhas lembranças delmirenses ele sempre será recordado pela sua forma esfuziante de ser.
Uma Lenda Viva em Delmiro Gouveia: Nenén de Brasileiro
Postado originalmente em 28 de setembro de 2005
No blog anterior há um post sobre o famoso Zé Mulher(falecido). Nada mais justo também fazermos uma homenagem ao não menos famoso Neném de Brasileiro. Afinal se assumir gay no final dos anos 60 e início dos 70 numa cidade nos confins do sertão nordestino é o cabra ser muito macho. É uma coragem e tanto desafiar os preconceitos. Afinal mesmo hoje passados tantos anos ainda impera em alguns círculos mais conservadores um certo ranço de preconceito.
Não sei se era impressão minha ou havia mesmo uma certa rivalidade entre o Neném e o Zé Mulher. Ambos fisicamente eram bastante diferentes. O Neném lembrava um pouco (ao meu ver) o Ronnie Von dos tempos da jovem guarda: cabelos negros e longos. E também tinha um certo ar feminino.
Aqui agora peço a colaboração dos leitores sobre os dados complementares sobre o nosso homenageado. Sei apenas que ele era filho do Sr. Brasileiro(vigilante do açude) e que morava para os lados da Pedra Velha.
As fotos deste post foram tiradas por mim no Bar Candeeiro em junho de 2002. Estávamos reunidos com parte da turma do GVM/1977 quando de repente entra o Neném. Um pouco mais velho, mas com a mesma esfuziante alegria de sempre. Pedi autorização e fiz o registro para a posteridade.
E aí o que você tem para contar sobre ele? Deixe o seu recado.
PS: aparecem nas fotos o famoso futebolista Tonho de Eusébio e o Cleninho(filho de Clênio Sandes) e a segunda foto a moça em pé é Núbia irmã do Rita e do famoso João Cambão.
13 comentários:
Em vida ainda nos fins dos anos 1980, tive oportunidade de fotografalo nos jardins de sua residencia localizada no bairro eldorado, isso se deveu por ter amizade e carinho pela pessoa que ele representava para a sociedade delmirense. Uma pessoa fantastica com certeza!Desde já posso disponibilizar as imagens capturadas em um dia no passado.
Abraços.
Zé Mulher foi uma pessoa de grande importância de nosso macondo. Quantos "Homens" de Delmiro tiveram a coragem de enfrentar todas as barreiras de preconceitos que o Zé enfrentou? Como costureiro, cozinheiro e fazedor de amizades, ele cativava a todos.
No ano em que foi lançada a música de Ney Matogrosso homem com H, a turma pedia para que fosse tocada a todo estante no PRPC e dedicavam ao mesmo. Alguns exageravam em suas dedicatórias, chegando ao ponto do Zé pedir para parar com as dedicatórias. No mais, fica minha homenagem para este Zé, Cabra macho pra danar, que sabia ser mulher e um Homem com "h". Ele apenas foi ele mesmo. Sem vulgaridade e respeitando os que faziam parte de sua vida.
Luiz Reginaldo seria interessante se vc pudesse nos disponibilizar a fotografia citada e aí postaríamos neste texto mesmo.
Além destes dois personagens, havia outros, na época, homossexuais assumidos: Stélio, Lacerda, Galego (trabalhava na lanchonete vizinha ao PRODUBAN) e Aluízio. O Stélio morreu faz muito tempo.
Esta havendo algum desencontro de informações, pois pelo que sei, "Zé Mulé" morreu já nos anos 2000 (parece-me que em 2004), e não no final do anos 80!!!
André bom que vc levantou esta "lebre". Vamos aguardar os pronunciamentos dos demais. Será que o Eduardo ou David que sempre nos trazem tantos dados novos têm esta informação de forma precisa?
Pois é César, e ele fora encontrado caído no banheiro de sua casa, já morto. Tenho certeza que não faz tantos anos isso.
Pessoal fui obrigado a fazer algo que não gosto: deletar comentários. O sistema permite comentar de forma anônima. No entanto alguém fez 3 comentários de forma desairosa e um deles atacando a honra de pessoas já falecidas. Para efeitos legais o blogueiro que responde por quaisquer processos judiciais que por ventura venham ocorrer por parte dos ofendidos. Espero que não seja obrigado a fazer isto novamente ou que o blog fique chato "fazendo leituras prévias" antes de postar comentários. Assim perde toda graça.
Grato pela compreensão. E espero que o tal anônimo venha a participar de forma clara e saudável ou então leia e guarde para si suas considerações "pouco engraçadas"
Parabéns pra você César. Será possível que em pleno século XXI, ainda existam pessoas retrógradas e preconceituosa a ponto de não respeitar a memória de uma pessoa que nunca fez mal a ninguém. Cleide Lima.
César, eu estive em Delmiro no feriado e olhando algumas fotos antigas na casa da tia Luíza, eu encontrei uma foto do Aloísio Mavel, você lembra deste também? Ele já viveu em Delmiro e depois foi embora para o Rio de Janeiro. Eu lembro muito pouco, mas ao ver a foto eu lembro de já o ter visto. Cleide Lima
Cleide seria ao Aloísio que morava no B. Sossego? Querendo enviar para postar com algum texto seu basta fazer isto por email.
Grato
O ser humano e dotado de uma falsidade que doi , quantas e quantas vezes vi este homoxessual ser mal tratado e correr naquela rua central com medo de apanhar dos que se achavam macho porque tinha duas bolas penduradas, por mas que hovesse o conhecimento de nós para com o Zé mulher, sempre teve precoceitos contrario ao seu modo de vestir falar e andar, portanto vamos parar de hipocrisia.
Forte abraço Cesar.
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