quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Figuras Delmirenses: Ronaldo Macarrão, o metamorfose ambulante







Texto originalmente postado em 14 de outubro de 2004.

Nunca soube o seu nome completo real ou ao menos algum sobrenome. Todos o chamavam de Ronaldo Macarrão, o apelido certamente inspirado pela sua esqualidez. Também nunca soube do que vivia ou sobrevivia em Delmiro Gouveia naquela época.

Era um tipo meio diferente para os padrões de uma cidade até então pequena e acanhada. Aquela figura alta, magra, cabelos longos desgrenhados, e eternamente vestido com jeans surrados, às vezes com uma jaqueta. Lembrava um pouco um hippie. Apesar de que o movimento rebelde dos anos 60 há muito declinara. Enfim ele não era alguém que passasse despercebido.

E como ser despercebido sendo diferente numa cidade pequena? Era algo um tanto difícil.
Quando chegavam os finais de semana, ele era a grande atração dos Programas de Calouros, que geralmente aconteciam no Antigo Cine Pedra. A voz do animador anunciava em tom de suspense a sua entrada: Agora com vocêsssssssssss Ronyyyyyyyyyy Seixassssssssss.

E então ele adentrava ao palco imitando o seu ídolo Raul Seixas. A voz não lembrava muito o Raulzito. Mas à imitação dos gestos, trejeitos e postura de palco lembrava.

Ele então se transformava num astro. E nós aquela meninada dos anos 70 de DG, aplaudíamos o nosso ídolo e gritávamos o seu nome. Tudo isto era acompanhado pelos acordes dissonantes do Conjunto do Reginaldo. Não lembro mais o nome do conjunto. Mas sei que sempre mudava de nome.

Tudo bem que era tudo uma grande gozação. Mas o Rony Seixas se empolgava. E naquele momento ele era uma verdadeira Metamorfose Ambulante. E entre outras coisas cantava: Gitã, Medo da Chuva e Quem não tem colírio usa óculos escuros e Eu Nasci Há dez mil anos atrás.
Talvez algumas pessoas mais conservadoras façam algum tipo de censura ou encare com ares de reprovação esta homenagem ao Ronaldo Macarrão.

Poderão até dizer: mas este cara bebe demais e outras coisas. Mas quero deixar o meu registro sobre alguém que até hoje povoa minhas lembranças delmirenses. Um sujeito pacato, de voz suave, contestador e tranqüilo. Sempre o achei gente boa. E o olhava com olhos de admiração. Porque ser contestador naqueles anos de chumbo não era coisa para qualquer um. Afinal vivíamos numa ditadura e num ambiente social ainda eivado de preconceitos.

Não lembro de nenhum gesto com conotação política que ele tenha feito, naqueles tempos. Mas era ao meu ver um rebelde sem causa. E nos divertia com as suas loucuras.

A maior delas foi entrar num sarau do Clube Vicente de Menezes dentro de um caixão de defunto. A armação toda feita pelo Gilmar Cabeção. Foi algo marcante. Luzes apagadas, velas acesas e quatro sisudos carregadores entrando no salão. Um clima de suspense pairava no ar. O caixão é aberto. E levanta-se vagarosamente vestido numa mortalha o Ronaldo. Gritos histéricos por todo o salão. Foi uma farra.

Em junho de 2002 ao visitar a cidade após cinco anos de ausência. O encontrei ainda logo cedo sentado na escadaria do antigo Bar do Lula Braga. E fiz questão de ir apertar a sua mão e de apresenta-lo ao meu filho.

Eis aqui o famoso Ronaldo Macarrão ou Rony Seixas. Um artista delmirense. E ele com uma voz enrolada para àquela hora da manhã, agradeceu a deferência.

Hoje provando que é um verdadeiro mito vivo. E que realmente nasceu há dez mil anos atrás e não tenha nada que ele não saiba demais, freqüentemente é convidado a participar de eventos das novas tribos delmirenses.

As fotos mais recentes do nosso ídolo foram tiradas agora em setembro/2004, num evento ligados a esportes radicais urbanos(Skate e coisas afins) promovido pelo Eduardo Menezes.

Agora é com vocês.

15 comentários:

César Tavares disse...

Pessoal enquanto não chegar material novo irei resgatando textos publicados nos blogs anteriores. Não obedecerei a nenhuma ordem(cronológica ou temática). A alma dos blogs eram os comentários. No entanto sumiram misteriosamente e o provedor nunca deu jeito resgatar. Tenho todos no gerenciador mas sem identificação de quem postou originalmente.

Então quem comentou no passado poderia comentar novamente e os novatos terão a sua oportunidade.

César Tavares disse...

Nos blogs anteriores para não perder a qualidade e principalmente os detalhes das fotografias recebidas eu postava as mesmas quase sempre em suas dimensões originais e isto dava distorções na página e ficava sem nenhuma estética(apesar que nunca me preocupei com isto). Neste sistema aqui não: As imagens saem com a mesma dimensão e o leitor caso queira clica em cima da mesma e aí abre em seu tamanho original. Isto é interessante para quem deseja alguma cópia.

César Tavares disse...

Ahh outra coisa como este texto original era extenso diminui um pouco a fonte usada. Creio que dá para ler direitinho. Pois caso mantivesse a mesma fonte ficaria muito espichado. São pequenos ajustes que, ao meu ver, se fazem necessários. Grato a todos pela compreensão.

Eduardo Menezes disse...

Macarrão era o cara que sempre estava presente nas farras que a gente fazia, por várias vezes virávamos as noites pelas praças ruas e bares de cidade de Delmiro Gouveia, Ricardo tocando violão e o resto da turma lascando o pau a cantar. Sempre regado a velha Pitú. Macarrão era sinônimo de farra, cachaça, diversão. Mas lembro de uma vez em que ele passou um ano sem beber, sem nenhuma gotinha de álcool. Era segundo dia de carnaval, não lembro o ano, estávamos no Bar Da Tripa, o original que ficava perto do Clube Palmeirão, e alguém, que não estava na nossa turma, ofereceu uma dose de Campari para Macarrão ele recusou, nunca tinha tomado, e a pessoa insistiu para ele experimentar. Por insistência ele resolveu tomar uma dose, acostumado a tomar as “lapadas” de aguardente de uma só vez, pegou o copo com líquido vermelho e entornou bucho adentro. Rapaz... Macarrão fez uma cara feia, entortou-se todo e saiu correndo pra calçada do bar e botou tudo pra fora. Voltou reclamando e dizendo que nunca mais ia beber. Em pleno carnaval... Segundo dia... E não teve quem fizesse tomar mais nada. Passou-se um ano até que chegou o carnaval de novo e algumas pessoas, que não era da turma da gente, levou ele pra Piranhas. Resultado: chegou bêbado às quedas.

Anônimo disse...

Eduardo ou Ricardo, acho que me lembro de vocês morando ou passando férias na rua do ABC (IBGE), tirei muitas casquinhas numa máquina de datilografia se não me engano REMINGTON, que tinha naquela repartição pública e seu pai sempre foi gente fina, era só chegar e pedir ZITO deixe datilografar um trabalho e ele prontamente atendia, devo isso a ele. Estudei (oitava série) com um rapaz que morou lá ou trabalhou, por sinal muito inteligente seu nome era ANTONIO CALHEIROS vc lembra dele?
ADAILTON

Eduardo Menezes disse...

Olá Adailton,

Bom, pelo nome não tô lembrando de você, nunca fui bom emdecorar nomes. Mas era isso mesmo, meu pai nunca negou a um pedido para usar a máquina de datilografia. Quanto ao Antonio, era irmão de Edivaldo Calheiros que trabalhava no IBGE com meu pai, Antonio foi para Delmiro para estudar e ficou morando no IBGE. Na época Edivaldo foi Para Porto Real do Colégio, hoje ele é chefe da Agencia do IBGE em Penedo. O Antonio ficou ainda por uns tempos em Delmiro depois foi embora, também. Um tempo depois soube que ele tinha falecido, não lembro a causa da morte.

César Tavares disse...

Eduardo se o Edivaldo que vc fala era um rapaz magro,com uma pequena barba e com estatura mediana e que adorava ler. Então eu viajei com ele durante todo o ano de 1979 na C10 do Zé Freire, quando íamos para o colégio 7 de setembro em Paulo Afonso. O Edivaldo do IBGE que eu conheci era um sujeito com um bom papo e bastante politizado para aqueles tempos ainda nos estertores dos "anos de chumbo". E ainda lembro de uma história contada por ele e que ocorreu no quartinho da empregada que morava nos fundos da casa do Dr. Ulisses. Era negócio para umas 3 cervejas.

Eduardo Menezes disse...

César,

O Edivaldo era esse mesmo que você descreveu, na época ele fazia contabilidade em Paulo Afonso.

Anônimo disse...

kkkkkkkkk
hehe eu so tenho 21 aninhos
Sempre pensei que o macarrao
do nome dele vinha daqueles
cabelos enormes caracolados
um pouco mal cuidados mais
um tanto quanto bonitos hehe
descobri a verdadeira historia
dele aqui no blog hehe...

César Tavares disse...

Tiago tá vendo só: O blog tb é cultura. Inútil mas é. rs.

Ricardo Dreia Ramos de Menezes disse...

Quando alguém fala em Ronaldo Macarrão, automaticamente lembro do Simião e do violonista Gildo. É só falar de um deles, lembro dos outros dois.
Macarrão, Simião e Gildo, foram meu companheiros de bebedeiras e serestas nas minhas férias escolares em Delmiro Gouveia.

O Macarrão, eu soube, vez ou outra, cai na tentação e toma todas.
Na última vez que vi o Macarrão, 2005, ele não estava bebendo.

O Simião, não o vejo desde 1986, dizem que, até hoje, ele é um biriteiro profissional e nunca abandonou a boemia.

O Gildo, já partiu faz muito tempo.

Sinto saudades das cachaçadas.
Mas não tenho mais condições físicas para enfrentar noitadas regadas a cerveja, cachaça e outras deliciosas iguarias. rs...
Mas que de vez em quando sinto vontade de encher a cara... sinto mesmo... não posso negar.

Tenho inveja desses meus amigos, que estão aí, firmes, e não desistem nunca. hehe.

Anônimo disse...

Eduardo, ja bebi várias cachaças com Ronaldo Macarrão e com Gildo (in memorian),porem não lembro do tal simião, qual a família dele?
Adailton

César Tavares disse...

Adailton há fotos do Simião nos blogs anteriores. Ele aparece junto com Eduardo, Ricardo, Garoto, Walfrides Estrelinha e outros numa festa no Palmeirão. Todos estão identificados. Dá uma pesquisada que vc localizará.

Eduardo Menezes disse...

Adailton,

Não sei dizer as referências familiares de Simião. Já bebi com ele, na época morava em Maceió (acho que ainda mora) mas ía sempre a Delmiro. Tinha dia que ele procurava a gente cedo chamando pra beber e dizia:
- As células estão puxando
Tem vários anos que não o vejo, a última vez foi perto da Praça Deodoro, aqui em Maceió, estava bêbado.

Meuzent Galvão disse...

Boa tarde. Gostaria de parabenizar a iniciativa do blog. Fabuloso. Estou curioso para saber como anda o ídolo Macarrão. Abraço.