segunda-feira, 14 de julho de 2025

A QUEROZINA

 

A QUEROZINA

Texto postado originalmente na primeira versão do blog em 01/dezembro/2004


Nos anos 70 na cidade de Delmiro Gouveia tinha apenas uma banca de revista. E assim mesmo era uma banca improvisada. Ficava dentro da Loja Querozina de propriedade do Sr. Adão Queiroz.

Na realidade a Querozina era uma loja de bebidas. Principalmente bebidas de fabricação própria. Eram elaboradas em grandes tachos de madeira. Isto era feito nos fundos da loja, dando ali para o Beco do Progresso. O cheiro de jurubeba queimada que levantava, quando ferviam aquelas misturas era insuportável. A cajuína, uma espécie de refrigerante local, era palatável.

A banca de revistas resumia-se a um mostruário com alguns exemplares. Não era uma banca sortida. Não havia tantos leitores assim na cidade. Ou os que tinham um poder aquisitivo maior, eram assinantes. As revistas geralmente chegavam com certo atraso. Já que eram trazidas de Paulo Afonso. Lembro bem que a Revista Veja chegava para os assinantes na segunda-feira. E na banca na quinta-feira.

O Balconista da Querozina era um rapaz chamado Cícero. Era um cara bem legal. E costumava guardar o meu exemplar. E como eu era um cliente habitual. Ele ainda deixava-me folhear outras revistas, ali mesmo no balcão

Foi neste pequeno espaço que comecei  aguçar um pouco a minha juvenil curiosidade por leitura. E isto era feito geralmente comprando a Revista Manchete. Eu achava o máximo àquelas fotos imensas e pouco texto. Durante uns três anos eu comprei todas Manchetes. Quando saí de DG, minha mãe se desfez de todas.

Hoje em dia ao passar em alguns sebos recifenses, por vezes, revejo alguns dos exemplares que um dia eu também tive. Como este aí da foto abaixo: Eleição do Papa João Paulo. Um curto papado. 33 dias apenas. Dá uma imensa saudade.

E aí quais as suas primeiras leituras delmirenses? Conte por aqui.


quarta-feira, 9 de julho de 2025

A “Revolução” de 1964 na visão de um garoto delmirense

 

Texto de Eraldo Vilar e publicado originalmente em 03/12/2005, nas primeiras versões do blog.


A “Revolução” de 1964 na visão de um garoto delmirense

Hoje temos o excepcional e divertido texto do nosso colaborador Eraldo Vilar narrando o pantim (mais uma palavra do vocabulário delmirense) feito por alguns milicos nos primeiros dias do Golpe Militar de 1964.

Qual interesse estratégico tinha a nossa cidade no contexto nacional naqueles dias é um mistério para os historiadores? Será que o famoso Ouro de Moscou financiava algum aparelho comunista delmirense? Será que na pacata DG havia comedores de criancinhas? 


A  “Revolução” de 1964 na visão de um garoto delmirense
(Texto na íntegra do Eraldo Vilar) 


 

A famosa “revolução”, promovida pelos militares em 1964, marcou minha geração, pois seus efeitos foram prolongados, sendo o pano de fundo de parte da minha infância , adolescência e parte da minha vida adulta.

Embora tenha ainda comigo, lembranças nada boas deste período de “chumbo” da vida brasileira, lembranças estas associadas a colegas e professores da escola de geologia, na Bahia, perseguidos e presos (alguns torturados), guardo, entretanto, uma recordação engraçada deste período.

Tinha eu 10 anos de idade quando a “revolução” eclodiu, residia ainda em Delmiro e tomei conhecimento dela em um sábado, dia da famosa feira, que acontecia na cidade.

Estava, pela manhã, na loja de meu pai, na rua do Progresso, ajudando nas vendas que aos sábados eram intensas e exigiam reforço na equipe de vendedores, quando ouvimos grande alarido na rua. Pedi ao meu velho para ir ver o que estava acontecendo e dirigi-me ao início da feira, próximo ao açougue, onde fiscais da prefeitura normalmente colocavam cavaletes para impedir a passagem de veículos no meio da feira.

Lá chegando, deparei-me com aqueles veículos assustadores, enormes, verdes (tudo é grande demais quando somos pequenos, não é? rs) parados no meio da feira. Tratava-se de dois caminhões do exército , vindo do quartel de Paulo Afonso: um, com capota e bancos, estava cheio de soldados armados com fuzis com baionetas travadas, o outro tinha apenas carroceria, sem capota.

As fisionomias dos soldados (todos jovens, alguns delmirenses) estavam rígidas, sérias e assustavam. Os soldados desceram do caminhão e sob as ordens de alguns sargentos, começaram a se distribuir em pequenos grupos pelas ruas do centro, com ar ameaçador que fazia os pobres feirantes permanecerem em silêncio, assustados (eu comecei a pensar que voltar para a segura companhia de meu pai seria uma boa idéia..rs).

Na carroceria do caminhão sem capota, cujas grades laterais foram abaixadas, os soldados colocaram uma metralhadora de pé, de grosso calibre , daquelas que se vê filmes de guerra. Um enorme pente de munição foi colocada na abertura lateral da metralhadora e um soldado deitou-se em posição de tiro, apontando a mesma para os lados da feira. Esta ação fez o povaréu recuar e eu correr..rs. Mas, era apenas o soldado tomando posição. Aliás, uma posição estática mesmo!. O bravo combatente, imbuído de dever patriótico (rs) nem batia as pestanas. Sua expressão era a seguinte: olhar raivoso de águia, fixo, lábios cerrados, parecia uma estátua.

Pois é....e tome-lhe sol delmirense no capacete. Passado um tempo, o medo foi passando, e um monte de matuto (eu no meio) foi se acercando do caminhão, maravilhados com aquela cena, aquela arma gigantesca e ameaçadora.
A turma foi descontraindo, puxando seus cigarrinhos de palha brava, e diálogos do tipo eu pude ouvir:
-Pois é, cumpadi...que espingarda da peste, né? ¿
-É, cumpadi..ja pensou o estrago que a gente ia fazer nos mocós cum ela?  
-Eita cumpadi..ia esbagaçar, homi, isto é prá matá onça!¿....
-Mas que sordado bravo, né?...num mexe nem os beiços!  
-Pois é...será que ele guenta o sol muito tempo, cumpadi?
-Sei não, cumpadi..o coitadim vai derretê dibaixo do capacete...

E por aí iam as conversas, ao redor do caminhão.....
Hoje lembro destas coisas ... que coisa mais surrealista a “revolução de 64”
na nossa Macondo!...rs....queriam achar algum comunista lá?? Rsss

Ps: pelo sim pelo não, enterrei meu livros de capa vermelha no dia seguinte...rss

Ps: não tenho certeza porque não fiquei o tempo todo, mas eu soube que o soldadinho desmaiou de insolação....rss...alguém lembra e confirma?

REMINISCÊNCIAS DA RUA DO ABC

 

Texto postado originalmente em 01 de setembro de 2006, na primeira versão do blog. Na época gerou dezenas de comentários. Não tem mais como recuperá-los. Uma pena. 


Hoje o texto é longo. Mas vale a pena ler até o fim. O nosso colaborador teve um trabalho imenso em puxar tanto por sua memória fenomenal. Enfim temos um completo mapeamento histórico das origens da Rua do ABC. Do seu povo. Da sua gente. Dos seus costumes e dos acontecimentos que marcaram de forma indelével a vida de um garoto. E que hoje presta a sua homenagem a tantos nomes do passado e alguns ainda bem presentes no cotidiano da cidade de Delmiro Gouveia.(a Macondo sertaneja)


REMINISCÊNCIAS DA RUA DO ABC
Texto de Paulo da Cruz.



Não sei se esse texto vai interessar a quem não morou na Rua do ABC. Talvez não interesse nem aos que por lá residiram, cresceram e fizeram amizades de infância.

DG tem algumas ruas que eram muito conhecidas, talvez por estarem localizadas em locais estratégicos. Posso citar algumas delas e creio que hoje deve ter muito mais ruas que servem como referência. Quando residi em DG as ruas que eu ouvia falar mais os seus nomes eram: ABC (eu morava na rua continuação), Carlos Lacerda (depois mudou o nome para Castelo Branco), Delmiro Gouveia, 7 de Setembro, 13 de Maio e Freitas Cavalcante. Provavelmente, dado que eu já era adolescente, tinha alguma garota atraindo a minha atenção ou de algum amigo meu. A Rua do ABC, objeto deste texto, tinha quando eu por lá cheguei, em 1956, tinha limites já definidos.

A rua começa junto ao desvio onde o trem fazia manobra (hoje no local tem um bar de rua, quase em frente ao Banco do Brasil) e ia até uma cerca de arame farpado junto a vários pés de uma planta conhecida como labirinto. Por sinal essa planta tinha uma seiva leitosa que diziam que cegava. Talvez mais uma lenda urbana. No início da Rua do ABC ficavam a residência do Dr. Ulisses Luna e a Mercearia de Condillac (Conde). A rua quebrava, no seu lado direito, entre as casas do Seu Zeca Norberto e Zé Elias. O beco que essa quebra provocava me deixa uma dúvida quanto ao seu nome: é beco de Zé Elias/Zeca Norberto ou de Luiz Xavier. Esse beco por sinal tem muitas histórias. Não lembro que ele tivesse iluminação própria, acho que pegava os resquícios da luminosidade das ruas que se comunicavam através dele.

Por esse beco regressavam, às suas casas, as garotas que estudavam no ginásio e residiam na Rua do ABC. Eram as famosas meninas da Rua do ABC. Não sei porque, mas elas só regressavam em bando. Acho que tinham medo de alguma alma penada que já estivesse assinando o ponto antes da meia-noite. Mais adiante, agora pelo lado esquerdo, tinha o Beco de Zé Panta. Zé Panta Godoy, segundo contam, foi quem matou Maria Bonita, ou Lampião, não sei ao certo. Esse beco levava à Rua do Correio. Essa rua evidentemente tem nome. Eu não lembro. Ouvia as pessoas se referirem a ela assim.

Continuando a subir a rua chegava-se a dois becos um após a casa do Seu Agenor Norberto (depois foi o Hotel de Dona DasGraças), pelo lado direito, iniciando a Rua da Travessa, e o outro, pelo lado esquerdo, que dava para o curral ou matadouro municipal. Era matadouro mesmo. Não sei como a população conseguia consumir carne e não se contaminar, dadas as péssimas condições de higiene do local. Aliás, não existia higiene nenhuma. Só para ilustrar após o famoso curral tinha dois cercados, o de Seu Agenor e o de Jaime. O de Jaime tinha uma pequena represa onde alguns tomavam banho. Lembro que lá tinha um barro muito bom para fazer balas para usar com o estilingue (era chamada também de peteca).

Voltando a Rua do ABC. O beco ficava entre as casas de Pepeda (alguém lembra dele) e de Dona Leobina (uma senhora residente no Sinimbu que costumava alugar essa casa). Vizinha a casa de Pepeda ficava a Mercearia de Dona Rita, esposa do Seu Zé Leite, já citado aqui no blog quando foi contada a história da Botija. Essa era a parte nobre da Rua do ABC, onde moravam as pessoas de maior poder aquisitivo.

Vou tentar relembrar alguns moradores ilustres e com certeza vou cometer injustiça esquecendo alguns. Dr. Ulisses Luna, pai de Delmiro e Solange (médico, fazendeiro e ex-prefeito), Dona Maria Clementina (viúva do Cel Ulisses, o homem que deu guarida a Delmiro Gouveia quando ele chegou ao sertão das Alagoas), Seu Enoque, pai de Nelson, Elias (agente do IBGE), Maninho (proprietário do bar famoso), Mireta (irmã de Maninho), Dona Julia Santana (costureira), Seu Lino, pai de Zé de Lino (fazendeiro), Seu ... Santana (artesão do ramo de couro), Seu Antônio Nezinho, avô de Aline (comerciante), Seu Zé Panta, pai de Cilinho (ramo de transportes), Seu Antônio Exalto (comerciante), Lula Braga, pai de Carlinhos (alfaiate e proprietário de bar), Seu Joãozinho de Maroca, pai de Tôtô e vários outros colegas (ramo de transportes), Seu Agenor Norberto, pai de Kleber (funcionário destacado do fábrica), Seu Zé Leite, avô de Toinho de Cacilda (comerciante), Jaime (criador de gado de leite), Benedito Freire, pai de Gedalvo, Paulo, Rui e tantos outros (comerciante e ex-vereador), Seu Heleno, pai de Tom Mix e vários outros (dono de marcenaria), Seu Zé Alves, pai de Eraldo e Gilda (comerciante), Seu José Lima (fazendeiro - antes a casa foi de propriedade do Seu Gaudêncio Lisboa, ex-prefeito), Seu João Liberato (comerciante), Seu Davizinho, pai de Luiz (comerciante), Eurico, pai de Euriquinho e Zezinho (protético), João Enfermeiro, pai de Paulo, Zé Hilton, João Fernando e muitos outros (protético), Seu Zé Craibeiro, pai de Givaldo e Assis (comerciante), Zé Elias, pai de Paulo (barbeiro), Zé Norberto, pai de Lucy, Seu Manoel Vigário, pai de Maciel (comerciante no Pariconha, acho que um de seus filhos é o atual prefeito de lá), Seu George Lisboa, pai de Bezo, Osmar e tantos outros (funcionário da rede ferroviária) e Condillac, o Seu Conde, pai de Linda.

Essas pessoas ajudaram a fazer a história de DG, durante várias décadas, como as pessoas residentes em outras ruas também o fizeram. Elas poderiam ser nominadas por outros freqüentadores do blog e que residiram nessas ruas. Acho que é uma maneira de relembrarmos o passado. Todas essas pessoas que eu consegui citar tiveram, em algum momento, direta ou indiretamente, importância na minha vida, seja comerciando, transportando ou simplesmente me dando atenção e conversando comigo.

Até hoje eu não sei a origem do nome da rua, talvez devido ao número de professoras que lá residiram e escolas particulares que foram por lá sediadas.

Eu morei na continuação da Rua do ABC, que depois passou a ser independente da Rua da Independência (o novo nome da Rua do ABC) com o nome de Rua Pe. Anchieta, logo após o beco, vizinho a casa de Dona Leobina. Hoje o beco deu lugar a uma escola e a casa onde residiu Pepeda foi demolida e virou beco.

Na rua a criançada cresceu jogando bola, castanha de caju, bolinha de gude, pião, peteca, empinando papagaio, pegando borboletas (lembra disso Eraldo), passarinhando no mato (atrás do Cemitério, ou no cercado de Jaime) e fazendo corridas de caminhão construídos com restos de madeira obtidos na marcenaria de Seu Cícero de Duca que ficava na Rua da Travessa. O interessante em Seu Cícero, pai de uma numerosa prole, era o sistema de assovio que ele usava para chamar cada um dos seus filhos. Cada um tinha um assovio próprio.

Um fato interessante da Rua do ABC. Tôtô até já fez um comentário a respeito. Foi a primeira rua a ter televisão em DG. Um determinado dia, em uma das casas que ficavam entre a casa de Tôtô e a casa de Zé Panta chegou um novo morador. Ele era proprietário de um caminhão que fazia viagens pra São Paulo e resolveu comprar um aparelho de televisão. Comprou e instalou uma antena que devia ter mais de 15 metros de altura e direcionou para onde ele achava que era Recife. Com a tecnologia daquela época a única coisa possível de se pegar era chuvisco. A CHESF ainda não tinha instalado as torres repetidoras que depois fariam o link entre Recife e Paulo Afonso. Mesmo assim a meninada ficava na janela olhando aqueles chuviscos e imaginando ver alguma imagem. A Rua do ABC (prefiro chamá-la assim), era dividida por um canteiro onde foram plantados pés de algaroba e castanhola. Entre a casa de Dr. Ulisses e de Seu George Lisboa tinha dois ou três pés de ficus (chamávamos de figo), ainda jovens se comparados aos frondosos que ficavam em frente à Casa de Saúde. Nas noites quentes de verão ficávamos aproveitando uma brisa e até aparecia vez por outra um violão para despertar algum cantor adormecido. Ao que me consta Kleber era o único na rua que tinha um violão, além de Lula Braga é claro, porém esse era um instrumento semi-profissional, marca Del Vecchio. Carlinhos as vezes dava uma fugida com ele e aí tirávamos uma palhinha.

Agora lembrei, também morou na Rua do ABC o Seu Antonio Panta, pai de Nildo Pantaleão (acho que é tio-avô de Aline). Nildo passou um tempo em São Paulo e voltou cantor. Lembro de algumas serestas que ele e Kleber fizeram.

Enfim essas são algumas das lembranças que eu tenho. Gostaria de encontrar por aqui relatos de pessoas que residiram em outras ruas. Não precisa ser texto literário (esse não é). Apenas conversa pra ser jogada fora, do tipo: você lembra de fulano, que morou na rua tal e era pai de sicrano? Tens notícias desse povo? Sabe o que aconteceu com eles?

Nesta esquina, nos anos 60/70, ficava a sorveteria do seu Conde(janeiro 2010)

Rua do ABC nos anos 80

 
Rua do ABC anos 80. Ainda havia um canteiro central.

Nesta outra esquina e em frente a sorveteria do seu Conde ficava a residência e consultório do famoso Dr. Ulisses Luna. (janeiro de 2010)

terça-feira, 8 de julho de 2025

O DIA EM QUE UM MANDRAKE ESTEVE EM DELMIRO GOUVEIA

 



Texto na íntegra do nosso colaborador Eraldo Vilar. Publicado originalmente na primeira versão do blog em fevereiro de 2006.


MANDRAKE EM DELMIRO !!!!

O DIA EM QUE UM MANDRAKE ESTEVE EM DELMIRO GOUVEIA




Até meados dos anos 60, os espetáculos de hipnotismo não tinham sido ainda proibidos pelo Conselho Nacional de Medicina, de forma que era possível assistir ?shows?, onde uma pessoa treinada nesta intrigante arte (?), fazia verdadeiras mágicas utilizando pessoas da platéia.
Um destes shows, eu assisti em Delmiro, creio que nos ano de 1963, quando tinha 9 anos.

Foi realizado no Clube Vicente de Menezes, à noite.

Lembro-me do salão cheio, da atmosfera de mistério que antecedeu o espetáculo, pois o hipnotizador fazia uma propaganda prévia pelas ruas de Delmiro, prometendo coisas impossíveis, mágicas, e o figurino do mesmo imitava o do famoso mágico Mandrake, gibi que eu lia com intensa atenção.

Não agüentava de ansiedade a hora do show, e ansiedade foi tanta que, ao voltar do Wanderlei Cardoso (WC) , esqueci de abotoar a braguilha da calça , deixando exposto o dito-cujo e assim desfilei por todo o trajeto. Após sentar na platéia, ainda esperando o início, notei que as pessoas vizinhas estavam rindo e olhando para mim, mas continuei sem nada perceber, até que a moça vizinha (a quem serei eternamente agradecido) sussurrou: ?olhe para baixo que vc esqueceu alguma coisa fora do lugar?. Não precisa dizer que, ao notar o desastre, fiquei mais vermelho que a estrela do PT ( que anda muito envergonhada..rs) e comecei a ?derreter?...escorregando suavemente para baixo na cadeira, querendo que o hipnotizador criasse um buraco onde eu pudesse me esconder até a quarta geração. Não preciso dizer que foi meu maior suicídio social em Delmiro...rss. (ei ,foi só eu... É??....que tal todos contarem seus maiores micos delmirenses? ..hein? rs)

Graças a Deus (sei que não acredita que ele existe, César, por isso peço licença pelo uso do termo..rs) o show começou e a platéia cruel esqueceu aquele menino-de-9-anos-parecendo-um-tomate e concentrou-se no palco. Nunca senti tanto alívio. Aos poucos fui voltando a sentar como um ser humano senta...

O hipnotizador era mesmo impressionante (bem, pelo menos para um menino-de-9-anos-parecendo-um-tomate). Com a capa preta e a bengala do Mandrake e com o cabelo engomadíssimo, preto, e sobrancelhas arqueadas por uma pesada maquiagem, compunha uma imagem que até hoje não me sai da cabeça. Era o Mandrake em pessoa!..passei logo a procurar onde estava o Lothar, seu fiel ajudante no gibi, mas este faltou ao show..rss

Pois é..o cara começou o espetáculo....lembro apenas de algumas partes. Uma delas foi com minha irmã Gildete, na época uma mocinha de 14 anos. Ele desceu até a platéia, pediu que ela levantasse e a olhou nos olhos por uns 30 segs....imediatamente minha irmã começou a dormir!...coisa impressionante. Ele a segurou e a fez sentar na cadeira novamente e retornou ao palco. Enquanto todos observavam a estranha cena, pois o mesmo nada falara, ele acendeu um cigarro com um isqueiro barulhento. Nesta mesma hora, minha irmã despertou!...fantástico. Então, o Mandrake explicou que havia deixado um ?comando cerebral? para que ela acordasse quando ouvisse um som metálico de um isqueiro. Foi um ?ohhhh? geral da platéia. Em seguida o aprendiz de feiticeiro, se dirigiu a Jane (filha de Dona Inácia e Sr. Jacinto, se não me engano) e conversou baixinho com ela, na platéia. Após alguns minutos, se despediram, e Jane, rindo e de olhos abertos, sentou-se. Ele então subiu ao palco e tornou a acender o isqueiro...e ..imediatamente...a Jane dormiu!....foi outra comoção quando ele explicou que tinha dado um comando contrário ao de minha irmã, demonstrando seu domínio da arte.

O momento culminante, porém, após muitos outros, foi quando ele compôs uma ?orquestra sem instrumentos?. Ele chamou uns 14 rapazes (lembro apenas de Kleber Lima, hoje vereador e de Ronaldo Macarrão (nosso eterno Raulzito) e , um a um , foram sendo hipnotizados e orientados para tocar um determinado instrumento musical.
Foi engraçado demais ver aqueles 14 marmanjos simulando inconscientemente tocar os mais diversos instrumentos: tuba, tambor, violão, trombone de vara, sax, sanfona, etc...!

Que pena que não havia vídeo na época..rss..a platéia bolava de rir e so 14 músicos? super compenetrados tocando uma sinfonia muda com instrumentos invisíveis!..rsss..
Impagável!...há coisas que o Mastercard não pode fazer por vc..rs

Uma pena que não tenhamos mais estes shows...rss...foi um tempo muito divertido.

Você , César e demais amigos do blog, assistiram algum?...e que tal contar sobre micos delmirenses?.rss

Abraços a todos

Eraldo Vilar

Centro de DG no início dos anos 2000.


Resgatando textos.

Texto do Prof. Paulo da Cruz. Postado originalmente em 28/agosto/2006 na primeira versão deste blog, na época teve 15 comentários. Pena que não há como recuperá-los

 Centro de DG no início dos anos 2000.



Quem vê o centro comercial de DG hoje, barulhento, com calçadas modernas e bares de rua, não pode imaginar, a menos que já tenha vivido um bom tempo, como era isso no passado.

Na década de 60, por exemplo. A atual Av. Castelo Branco, onde fica o centro nervoso do comércio em DG, já teve vários nomes. O primeiro, pelo que sei foi Rua do Progresso e começa onde foi o Cine Real e ia até a casa de Zé Balbino (dono do ônibus que fazia a ligação DG/Paulo Afonso. A partir daí era Rua Petrolândia (acho que influência da via férrea que passava ao lado) até a casa de Pedro Camilo. A partir daí era Alto da Paz. As linhas limítrofes podem ser um pouco diferentes (a minha memória já não é a mesma) mas era mais ou menos isso).

Essa confusão toda acabou na administração do Dr. Ulisses Luna, que como prefeito, no início da década de 60, urbanizou essa área com calçamento, plantio de árvores, etc. Para dar um toque final ele construiu um arco na saída da cidade, no Alto da Paz, e juntou todas as ruas em uma avenida que denominou de Carlos Lacerda. Nessa época Lacerda era um dos prósceres da UDN, partido que dominava a política em DG rivalizando com o PTB. Era a época dos caras-branca e caras-preta (assunto pra um post futuro). Entendeu o nosso doutor que Lacerda devia ser homenageado e deu nisso: Av. Carlos Lacerda, a primeira de DG e talvez a única até hoje. Anos depois soube que o nome já não era mais o mesmo. Tinha sido mudado para Av. Castelo Branco, o primeiro presidente no regime militar. Lacerda tinha caído em desgraça e alguém, não sei quem foi, achou por bem mudar o nome da avenida. Quem assistiu a série da Rede Globo sobre Juscelino Kubischek deve ter tomado conhecimento do que aconteceu com Lacerda.


A inauguração do calçamento, arborização e arco do triunfo foram dia de festa em DG, com direito a músicas marciais na PRPG, desfile dos alunos do Ginásio Vicente de Menezes (dos freqüentadores desse blog eu e creio que Gilda Vilar, esteve presentes desfilando, rs) e muitos discursos. Por falar em festa o centro comercial sempre foi o palco para os desfiles em datas festivas.

Em uma cidade onde não se tinha o que fazer a época dos desfiles era um momento para balançar um pouco a velha modorra. A agitação, no centro, começava com os ensaios, ansiados por grande número de alunos por ser uma forma de escapar das aulas. A cidade parava para ver os alunos ensaiando. Inicialmente eram feitos os preparativos no pátio do GVM, já atraindo os curiosos que se aboletavam no muro pra ver o Sargento Gerson (quem lembra dele) dar instruções de ordem unida. Depois sempre havia uma formação em frente do GVM com uma conseqüente treinada, digamos assim, pelas ruas adjacentes, toda a Av Carlos Lacerda, indo até o arco, Rua da Travessa, Rua do ABC, saindo na Rua Olavo Bilac e retornado ao GVM. Em dia festivo, 7 ou 16 de Setembro, toda a movimentação ficava concentrada no centro, mais ou menos, a época entre A Queirozina e a loja de Dimas, que devia ainda ser conhecida pelo nome do seu pai (não lembro qual era).


E hoje como será? Com a palavra as novas gerações.