sábado, 14 de setembro de 2024

Grandes Figuras Delmirenses: Zé Pedrão

 

JOSÉ  PEDRÃO: O menino curioso e persistente

 Texto de Paty Pedrão  com colaboração de Juca Pedrão


Nascido no município de Delmiro Gouveia,em 1932, e filho de José  Pedrão de Oliveira e Olívia Oliveira, recebeu o nome de José Oliveira, embora tenha se tornado conhecido por todos pelo nome do pai: "Zé Pedrão".

Seu pai, foi operário  da Fábrica de Tecidos e  a mãe era doméstica.

Zé Pedrão foi o 4° dos 12 filhos da grande família.

 Estudou apenas até  o 2° Ano Primário.

Uma de suas características mais marcantes, era a curiosidade. Na adolescência, costumava pular o muro da Fábrica de Tecidos, para observar o trabalho executado na Secção Elétrica. Lá encontrou pessoas que o ensinaram a fazer ligação elétrica simples. Uma noite, nessa mesma época,seus pais e irmãos foram surpreendidos com todo o quintal iluminado com diversas luzes brancas.

Da prematura   paixão  pela eletricidade ao emprego na Companhia Agro Fabril Mercantil, sob a direção  do Sr. Vicente de Menezes, como Servente de Eletricista, aos 14 anos.

Um ano após  tornar-se operário, foi preparado para exercer a função de operador da antiga máquina de projeção  de filmes do 1° Cinema do Município de Delmiro Gouveia: O Cine-Pedra. Aí começou a sua paixão pela Sétima Arte.

Casou-se  em 1951, com a também operária, a bela tecelã Iraci Queiroz Oliveira e com ela constituiu uma família com 6 filhos.

No ano de 1962, com o reconhecimento e compromisso por seu trabalho, passou a ser Encarregado da Secção  Elétrica da Fábrica de Tecidos, já sob a direção do Sr. Antônio Carlos de Menezes.

Apesar de ter  pouco estudo, a ele foi proporcionada pela Fábrica, a  participação  em um Curso Profissionalizante à  distância, ofertado por uma instituição de Los Angels/Califórnia. O proprietário da Fábrica pagou um intérprete, para traduzir todo o material a ser estudado. O jovem Zé Pedrão foi premiado com  medalha de ouro, pelo 1° lugar em desempenho no curso.

Ao mesmo tempo em que era operário, passou a exercer outra função a ele confiada: A Administração do  do Cine- Pedra.

Além de administrador continuou a ser operador dos filmes.

A primeira máquina de projeção de filmes incendioi por razões desconhecidas e o cinema foi reaberto com a chegada de caixotes advindos da Holanda, trazidos pela trem Greatwesternig, contendo as peças da moderna máquina cinematográfica de marca Philips.

Foi montada por um técnico italiano, Sr Facelle,o mesmo que ensinou a Zé Pedrão a operá-la.

No início da década de 60, ocorreu a modernização do cinema , a partir da projeção em cinemascope, onde as imagens eram expostas em tamanho maior, em tela padrão de 15,24 metros. Para tal inovação veio para o Cine-Pedra, a lente anamórfica, própria para esse novo tipo de exibição.

Para coroar cada exibição em nova tela que permitiria uma imagem de qualidade ao expectador, foi confeccionada uma longa cortina cor de vinho, que era aberta a cada início de exibição.

Zé Pedrão era leitor assíduo de jornais semanais e revistas, juntamente à sua companheira, era atualizado e conhecedor dos fatos relacionados ao país e mundo.

Para o Cine-Pedra, eram trazidas películas cinematográficas da melhor qualidade, garantindo aos expectadores  Delmirenses e das cidades circunvizinhas , a cultura da sétima arte.

Em viagem mensal à capital pernambucana, o Casal Pedrão contratava e fazia  a programação de filmes premiados e atuais, nas renomadas companhias de cinema ( Fox, Paramount, Universal, Metro, Paris Films, United Artists, Disney, Columbia Pictures, Warner Bros, entre outras). Sempre proporcionando ao seu público fiel, uma diversidade de estilos de filmes: religiosos, cowboys, dramas, suspense, guerra  e documentários.

Os filmes eram enviados do Recife à Paulo Afonso- Bahia, de onde o Sr. Zé Pedrão, ia buscá- los e trazia-os em tambores de alumínio, para em seguida  revisá-los e expô-los para o público. 

 O Cine- Pedra foi palco não  somente de exibição do que havia de mais atual na cultura cinematográfica, mas tambem palco de programas de auditório, festivais da canção, apresentação  de cantores famosos e artistas circenses de renome no país,  bem como foi palco de divulgação de campanhas de saúde do município. O  papel sócio- cultural  do Cine-Pedra é  inegável e isso deu-se pelo fato de que o Sr. Zé  Pedrão recebia a todos aqueles que a ele representavam arte. Em meio à  sua simplicidade e humildade, promoveu de forma singular e , talvez despercebida, o acesso à  cultura no verdadeiro sentido e grandeza da palavra. 

Entre operador e administrador do Cine-Pedra , dedicou mais que 40 anos de sua existência.

Durante essa trajetória, 4 filhos foram colaboradores da Fábrica de Tecidos (1 no escritório, 2 na Escolinha e 1 no laboratório). Formou seus filhos, com o suor de seu nobre trabalho, sendo o 1° operário a ter uma filha médica e um neto médico.

Aposentou-se no final da década de 80 e foi convidado a prestar serviço na mesma função  que exerceu no trabalho que era sua vida. Seu amor à  Fábrica transcedeu o tempo e eternizou-

se, até  ser acometido pela Doença  de Alzheimer. Encerrou sua missão e partiu para o plano espiritual, no ano de 2017.

Inesquecível, porém , pelo ser humano inteligente, e caridoso. bem como pelo profissional competente e líder singular, que foi.

No município de Delmiro Gouveia, falar em cinema é  reportar-se à  figura inesquecível do Sr. Zé Pedrão!