sexta-feira, 23 de julho de 2021

CINE PEDRA: O primeiro cinema em Delmiro Gouveia

 Resgatando ipsis litteris texto postado em 20 de outubro de 2004, isto ainda primeira versão do blog .





Quarta-feira, Outubro 20, 2004


Cine Pedra

A cidade tinha dois cinemas: Cine Pedra e o Cine Real. Os equipamentos de reprodução do Cine Real eram mais novos, mas o Cine Pedra tinha um charme especial por ser o primeiro cinema da cidade. Aliás, um dos primeiros cinemas do Brasil.

Eu sempre preferi o Cine Pedra. E ali naquele espaço amplo, tela grande, cadeiras desconfortáveis, som de péssima qualidade e com uma irritante parada no meio do filme para troca de rolos, eu tomava conhecimento de um outro mundo.

Conhecimento que chegava de forma barata. Os preços dos ingressos cabiam perfeitamente em meu bolso de criança/adolescente.

Os filmes chegavam em Delmiro Gouveia muito tempo depois que havia passado nas grandes cidades. Mas mesmo assim a expectativa era grande. O legal era que o ilegal prevalecia não havia censura. Vivíamos tempos duros de ditadura militar. Mas não havia censor em DG. E também não havia a onda do politicamente correto.

Portanto filmes violentos eram assistidos por todos indistintamente. Vi o Charles Bronson e o Clint Eastwood matarem muita gente. Cenas de sexo e nudez eram raras. Não faziam parte da cinematografia da época. Mas quando numa típica pornochanchada dos anos 70, aparecia apenas um seio ou uma bunda na tela, a gritaria era geral. Nu frontal nem pensar.

E assim assistia-se a tudo. Os filmes geralmente ficavam em exibição por apenas três dias. E nos finais de semana havia promoção. Com o preço de um assistia-se dois.

Geralmente eram filmes com atores desconhecidos e inexpressivos. Filmes baratos. Classe B mesmo. Não tinha importância. Não era seletivo e muito menos entendia de estética ou crítica cinematográfica. Porém às vezes chegavam (com muito atraso) filmes clássicos ou ganhadores de Oscar: O Exorcista, Inferno na Torre, Spartacus, Love Story, Pappilon. Nestes dias o Cine Pedra lotava.

O Cine Pedra pertencia à Cia Agro Fabril Mercantil e era arrendado ao Sr. José Pedrão Os funcionários do cinema durante o dia tinham outras atividades. Aquilo era apenas um bico. Assim o Zé Miguel (pai do César Pregão) era o bilheteiro. E a portaria ficava a cargo do seu Américo. A Patrícia, nossa colega de turma, e filha do Zé Pedrão, às vezes, ficava também na bilheteria.

Creio que tinha coisas que só aconteciam no Cine Pedra:

a) Como não havia motéis em DG, alguns casais mais espertos e com hormônios em ebulição, procuravam discreta e furtivamente ficar nas escadarias da saída. Obviamente escondidos por grossas cortinas. Talvez alguns jovens delmirenses tenham sido concebidos nestes momentos lúdico-eróticos. Perguntem aos seus pais. Encabulem os velhos.

b) Em alguns dias a meninada com grana curta e por pura molecagem, entrava nas casas da Vila Operária, que ficava ao lado do cinema, e pulavam o muro. O ato era conhecido como malhar. Entrar sem pagar. Com certa freqüência, alguns meninos, figurinhas carimbadas, eram conhecidas do Sr. Américo. Então ele pegava o dito cujo pelas orelhas e botava-o para fora. Mas o círculo vicioso se repetia.

c) Nos domingos pela manhã as instalações do Cine Pedra eram cedidas para a realização do Programa de Calouros. Um palco onde os delmirenses talentosos ou corajosos se apresentavam. Eram bastante comuns nestes programas os encerramentos ser feito por um astro local: O Ronny Seixas ou o Fred Clóvis, este cantando o seu maior sucesso (Psicopata do Amor). Também havia sorteio de brindes. Quem respondia algumas perguntas de conhecimentos gerais ganhava. Eu particularmente ganhei alguns prêmios valiosos. Talvez o mais caro deles tenha sido um conjunto de copos americanos, daqueles bem pebas, conhecidos como pega-bêbados.


Os cinemas em DG fecharam há mais de uma década. O prédio do Cine Real foi transformado numa Igreja Evangélica, apenas repetindo numa escala delmirense, o ocorrido em tantas outras cidades deste país.

No local do Cine Pedra, funciona exatamente onde era a cabine de projeção os estúdios da Rádio Delmiro AM/FM.

Em junho de 2002 estive visitando o local. Estúdios modernos e equipados com o que há de melhor no setor. O Adriano Pereira (locutor) nos mostrou tudo com entusiasmo.

No entanto teve algo que doeu na minha alma. E fez-me sentir um pouco como aquele personagem de Cinema Paradiso, ao ver que o cinema de sua infância havia sido transformado num estacionamento.

Para minha surpresa e decepção o espaço onde ficavam as cadeiras do Cine Pedra, onde eu sentava e via o mundo de uma forma deslumbrante e multicolorido de imagens e sons, havia se transformado num depósito de colchões.

Pateticamente senti saudades da infância.

 

Dois dias depois fiz um complemento da postagem a qual reproduzo a seguir:

 

Sexta-feira, Outubro 22, 2004

Ainda o Cine Pedra.

Para quem não conhece a cidade de Delmiro Gouveia, ou até mesmo, para os delmirenses das novas gerações, as fotos servem para situar um pouco. Estas fotografias foram digitalizadas de uma edição especial da Revista Continente Multicultural sobre o empreendedor Delmiro Gouveia, por ocasião do 140º aniversário de seu nascimento.

No original é uma montagem de cinco fotografias sobrepostas, onde se tem uma vista panorâmica de parte da fábrica, da rua principal, onde hoje é Avenida Castelo Branco indo até a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Por questão de espaço e por ser uma continuação do post anterior, optei por uma vista parcial.

Ainda no início dos anos setenta, a arquitetura das casas da Vila Operária, não havia sofrido profundas transformações. Hoje está bem diferente. O que se mantém apenas, é que as casas continuam conjugadas.


quarta-feira, 15 de julho de 2020

Entre memórias e esquecimentos: participações dos/as jovens no Festival da Canção do sertão de Alagoas (1970 - 1990)

Eis aí o nosso blog sendo mais uma vez citado nas referências bibliográficas de um trabalho acadêmico.

 Na edição da Revista Crítica Histórica (v.11  n. 21 2020 UFAL), foi publicado artigo da  delmirense Isabel Cristina Oliveira da Silva em conjunto com Ana Maria Freitas Teixeira e Rosemeire Reis.


A Isabel Cristina (pedagoga e doutoranda em Educação), é filha de Maria das Graças e neta do famoso Seu Manoel dos Quadros que morava ali na rua Freitas Cavalcante.

 

O artigo em sua  íntegra poderá ser lido/baixado no link https://www.seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/view/9457/pdf

 

Resumo:

Entre memórias e esquecimentos: participações dos/as jovens no Festival da Canção do sertão de Alagoas (1970-1990) 1

 

No tempo dos festivais de música pelo Brasil, proliferados entre os anos de 1960 e 1970, os/as jovens de Delmiro Gouveia/sertão de Alagoas organizaram na respectiva cidade o Festival da Canção. Este foi iniciado em 1970 e perdurou até 1990 como espaço máximo de socialização e expressão artística juvenil. Assentado na pesquisa documental e nos princípios da história oral, o presente artigo analisou memórias de dois sujeitos que participaram do Festival da Canção em suas juventudes.  Por meio das análises foi possível considerar que os/as jovens conviviam sob forte tensão entre a normatização imposta e seus modos de ser jovem. Pela música corporificavam tensões, a exemplo da miséria social ou das responsabilidades adultas que tão cedo pairavam o universo juvenil. Também, sinalizaram suas insatisfações quanto às poucas menções feitas ao festival na história oficial da cidade.

 

No artigo pinçamos trecho onde é relembrado uma figura mitológica no cenário cultural delmirense:  Ronaldo Macarrão

O grande nome do rock no sertão de Alagoas fora Ronaldo Macarrão, conhecido como “maluco beleza” ou “Roni Seixas” por sua admiração a Raul Seixas (TAVARES, 2010). Sua devoção ao artista, como também nos conta o radialista delmiresene Giuliano Ribeiro, numa matéria de 20 de março de 2012, publicada no Portal de Notícias Guiliano Ribeiro5 , era tão profunda que o mesmo celebrava uma missa no aniversário de morte de Raul Seixas, distribuindo bebida e churrasco entre os conhecidos. Infelizmente, no ano de 2012, Ronaldo Macarrão faleceu, nos impossibilitando de ouvi-lo sobre as lembranças de sua juventude artística”.



 

Quais lembranças você tem dos Festivais da Canção em Delmiro Gouveia?

 

Agora é com vocês.

 

 


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Geografia Delmirense ou Como era o Centro Comercial da “Macondo Sertaneja” nos anos 60.


Resgatamos hoje texto postado originalmente em 21 de março de 2006, quando o blog ainda estava em sua segunda versão. 


Nestes tempos onde podemos ver praticamente qualquer parte do globo terrestre através das imagens via satélite do Google Earth, eis que o nosso colaborador Prof. Paulo da Cruz, usando de sua fabulosa memória nos traz um Layout (planta baixa) do centro de Delmiro Gouveia nos anos 60. E melhor ainda com legendas explicativas. Agora é só matar as saudades da velha guarda delmirense ou tornar conhecido para as novas gerações o pequeno espaço geográfico onde seus avós,pais, tios...se divertiam e sonhavam com um mundo melhor.

Vamos ao texto do Paulo.


GEOGRAFIA DELMIRENSE OU COMO ERA NOS ANOS 60


Centro Comercial de Delmiro Gouveia nos anos 60. Arte: Paulo da Cruz.


Legendas:


1. Açougue Municipal

2. Beco das 7 facadas
3. Estúdio do PRPC
4. Prefeitura Municipal, ou seria o Bar de Maninho?
5. Ateliê* de Lula Braga/Dormitório do Hotel de D. Das Graças (1º andar)
6. Casa de José Balbino (aqui se compravam as passagens para ir até Paulo Afonso)
7. Padaria
8. Tamarineira
9. Escolinha de Dona Maria Pinto
10. Dancing de Zé Lopes
11. Escolinha de Dona Maria Damasceno
12. Bodega de Seu Zé Leite
13. Baixo Meretrício


* Funcionou também aí, concomitantemente com o ateliê, uma venda de comestíveis e bebidas.
Obs.: Atentar para a linha de ferro e as duas balaustradas.

As casas ainda estão lá, embora com outra aparência e seus donos ou moradores já são outros. Não poderia ser diferente, já se vão mais de trinta anos. Os contadores de histórias, sobre fatos que aconteceram nesses espaços, a época eram crianças e hoje são quarentões ou cinqüentões, alguns até já são avós.

O açougue municipal virou a Câmara de Vereadores, a prefeitura mudou de prédio, o estúdio do PRPC (um anacronismo delmirense) não sei onde fica, Lula Braga é apenas uma lembrança para os mais velhos, as professoras Maria Pinto e Maria Damasceno estão ministrando aulas em outras paragens, as balaustradas foram derrubadas, a linha de ferro arrancada, enfim, muita coisa mudou menos o Beco das 7 Facadas. Ele continua lá, intacto a desafiar a modernidade. Se ele falasse, quantas histórias não teria para contar. Histórias inocentes, escabrosas, comprometedoras, e por aí vai. Mas como ele não fala, cabe aos observadores dos fatos, relatá-las, quando forem publicáveis.

Agora é com vocês. Que trelas aprontaram por aí? Faltou algum detalhe que fugiu a memória privilegiada do Paulo?

Qual? Acrescente. Manda também a sua contribuição. Enfim comentem. E se por acaso a memória falhar pode mentir um pouco que ninguém se importará mesmo. Vale tudo.


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Turma do GVM 1977: Reunião Extraordinária


Eis que há um encontro parcial da turma GVM 1977. Quantos anos hein pessoal?  42 anos. Putz nem é bom contar os anos. O cheiro da naftalina é capaz de empestear o ambiente.

Como não compareci, mas recebi algumas imagens é justo dentro do espírito da Macondo Sertaneja imaginar os fatos. E assim sendo assim a narrativa é inteiramente baseada em fatos surreais ou ligeiramente aumentados ou totalmente inventados, ou, assim é que seria contada pelo delmirense que não exagerava os fatos: Mané Guilherme. Aquele que dizia que tinha um passarinho que fugiu com gaiola e tudo.
Mas vamos lá: O motivo para reunião foi o aniversário da Fatinha. O local do encontro foi uma mansão campestre na aprazível e amena Olho D’ Água do Casado. Parabéns tardios para a aniversariante.




Constou da Programação do evento e não necessariamente nesta ordem:

Abertura com o hino nacional tocado pelos remanescentes da banda do Mestre Elísio e breves improvisos da banda do Reginaldo dos Miseráveis do Som.

Banda do Lissinho trouxe uns acordes maiores.

Traje: Meninos e meninas com roupas nas cores cáqui e calçando confortáveis kichutes pretos.

Discurso solene feito pelo advogado, professor, engenheiro civil, poeta, profeta, cantor e galã da turma Cleiton Feitoza. Em sua fala releu os estatutos da AIU e da AID (será que todos ainda lembravam-se disto?), e enfatizou a necessidade de atualizá-los. Pediu vênia aos colegas que ele mesmo cuidaria disto. A monção foi aprovada por unanimidade;

Neto recitou uns poemas sertanejos e contou uns “causos”;

Ni, Augusto, Tubiba e Ricarti Mafra improvisaram uma “briga de jegue” (outra frase para os entendidos). Mas durou pouco. Faltaram pernas.

Borracha fazia profundos comentários filosóficos, políticos e econômicos e suas implicações sociais no mundo contemporâneo e suas relações com a Montilla atual, e defendia a tese que os rótulos no passado eram mais bonitos. Ou não diria Caetano Veloso.

Zé Pereira numa mesa a parte  entre uma cervejinha e outra reivindicava  o título nobiliárquico de sucessor perpétuo de Chefe dos Escoteiros. E justificava tal pleito apresentando uma relíquia sagrada: uma régua de alumínio com a inscrição misteriosa: Teacher.

Fatinha a aniversariante tinha que se desdobrar em atenção a todos. Ora servia feijoada, ora pegava um churrasco enquanto tentava espiar se as bebidas estavam geladas mesmo. Entre risos e abraços a tarde fluía. Ela também se desdobrava em atenção aos outros convidados: esposas, filhos e filhas dos colegas do GVM e outros vizinhos e parentes. Haja disposição para tanto.

Rita de Cássia entre risos procurava sua blusa que tinha sido escondida pelo Ricarte.
E assim o dia foi passando rapidamente.

Por fim ficou acertado que em outubro teria outro encontro e se possível com todos os remanescentes da turma.

Foi servida a sobremesa: Sorvete de Creme de Leite direto da sorveteria de seu Conde. Teve gente reclamando que queria o de biscoito.

Os fatos surreais acima foram capturados pelas lentes acopladas num drone.  O referido é verdade é dou fé.