A postagem de hoje foi publicada originalmente no site www.overmundo.com.br, e a reproduzimos aqui com a devida autorização do autor do texto: Pedro Santos (Florianópolis SC)
O Texto fala sobre o Tirone Feitosa, filho do Joval Rios e Durvalina e irmão da Hermância que foi nossa colega de turma no Ginásio Vicente de Menezes.
Logo em seguida para enriquecer ainda mais o material autorizado, estou inserindo vídeo pesquisado no youtube onde o Tairone fala sobre o “Circo de Leituras Joval Rios”. E aproveitando ilustramos também com imagens de cartazes de filmes em que o Tairone foi seu principal roteirista.
Vamos ao que interessa.
Olá, César,
Está liberado o texto "A mosca de Delmiro Gouveia". Depois me mande o link do blog.
Um abraço,
Pedro.
Está liberado o texto "A mosca de Delmiro Gouveia". Depois me mande o link do blog.
Um abraço,
Pedro.
No pequeno município de Delmiro Gouveia, localizado no sertão alagoano, mora um senhor idoso cujas barbas brancas indicam a idade que ele não revela. Com certeza, mais de sessenta. Hoje ele anda tranquilamente pelas ruas da cidade onde poucos se lembram, como lembravam anos atrás, da celebridade de nome Tairone Feitosa Pereira, que já foi roteirista da Globo e escreveu filmes para cinema.
É assim, cinematograficamente, que fatos na vida do ilustre habitante de Delmiro Gouveia foram acontecendo. Seus pais, que trabalhavam no circo, escolheram o nome do filho pela admiração a Tyrone Power, ator norte-americano que atuou nos anos 40 e 50 em filmes como “A Marca do Zorro” (1940) e o “Cisne Negro” (1942). Com nome de ator famoso, mas pouco dinheiro no bolso, o Tairone tupiniquim deixou a pequena cidade alagoana para seguir para o Rio de Janeiro. Como cresceu no circo ao lado do pai, que era palhaço, e da mãe cantora, Tairone aprendeu desde pequeno que a dinâmica do picadeiro servia para quase tudo na vida. “O circo não é como imaginam. É uma comunidade fechada em que as pessoas trabalham demais, sempre embaixo de uma fofocaiada inimaginável. Mas tem uma coisa interessante. As pessoas podem se odiar no dia a dia, mas vão fazer um número juntas. Até mesmo porque boa parte das apresentações exige cooperação. Assim também aconteceu comigo.” No final dos anos 70, ele conheceu Ruy Guerra, de quem logo se tornou amigo quando o cineasta moçambicano o convidou para escrever um roteiro sobre a Guerra de Canudos. O projeto não deu certo para Tairone, que abandonou o roteiro no meio. Mas a fama de que escrevia bem em uma época de sucesso absoluto da comédia pornô nos cinemas brasileiros se espalhou. E ele topava qualquer coisa desde que não fosse escrever filmes que “tinham mulheres nuas loucas pra dar”. Então vieram “J.S. Brown, o Último Herói”, “O Homem da Capa Preta”, “A Dança dos Bonecos”, “Luzia Homem”, “Ele, o Boto”. Todos nos anos 80, época em que começou a trabalhar na Globo, produzindo roteiros para séries de televisão como “Rabo-de-Saia”, em que dividia o script com Tom Zé. Até que a vida foi ficando agitada demais para Tairone, e, tão rápido como decidiu ir ao Rio de Janeiro nos anos 70, resolveu voltar para Delmiro Gouveia. Dessa vez como celebridade. “Eu não podia andar na rua que todo mundo me conhecia. Cidade pequena, né? Estava só esperando para ser chamado para alguma coisa. E não é que não demorou nada?” Dias depois, o cidadão honorário do município de Delmiro Gouveia foi convidado para assumir a Secretaria Municipal de Cultura e Esportes. O desafio era novo e ele aceitou logo. Só não deu para ficar muito tempo. “Recebi oito propostas de suborno nos 43 dias em que fiquei no cargo. Daí fui conversar com o prefeito e disse pra ele estava quase chegando no meu preço. Então saí”, explica entre baforadas de cigarro Malboro vermelho. Tairone tomou a decisão de não fazer mais nada na vida dependendo de governos. Virou, na própria definição, um ING - indivíduo não-governamental – e criou o que ele, imodestamente, chama de maior empreendimento cultural das Américas: “O Circo de Leituras Joval Rios”. “Peguei meus livros, armei uma biblioteca e agora meus meninos vão lá todo dia, ler livros, ver filmes, conversar, ouvir músicas, jogar conversa fora, discutir coisas sérias ou dizer besteira. Meus meninos gostam muito de lá e eu não dependo da prefeitura.” De “meus meninos” ele chama jovens e adolescentes carentes da cidade que freqüentam o circo de leituras. Em 2004, quase vinte anos afastado das artes cinematográficas, Tairone escreveu, em parceria com Ruy Guerra, o filme “O Veneno da Madrugada”, e ganhou, para sua alegria e auto-referência ególatra, seu nome no Imdb (The Internet Movie Database – o maior banco de dados de cinema e televisão da internet). Hoje, ele vive da aposentadoria, do centro cultural que criou e dos cigarros que fuma de quinze em quinze minutos. Até parece que a fonte para a filosofia de Tairone surge da nicotina. A cada baforada, uma sentença nova: “A ignorância faz parte da vida. A cada ignorância que você elimina, surgem novas ignorâncias imediatamente. Sempre nessa batalha entre o que você quer e o que você não sabe”. Isso, antes de anunciar que os “níveis de nicotina em meu sangue estão perigosamente baixos”, precede uma definição existencial da própria vida: “Eu sou meio como a mosca. Se você prender uma abelha numa garrafa ela não sai. Mas se você prender uma mosca, pode ter certeza de que ela vai sair”. E assim, como um zumbido, ele acende um novo cigarro.
PS:
http://www.youtube.com/watch?v=-lez00Qxsqc&feature=related
3 comentários:
Que maravilha, o circo de leituras. Assisti ao vídeo...as crianças carentes aprendendo coisas boas e como disse o Tirone, dali pode sair um presidente da república ou coisa que o valha. O mais importante é a iniciativa de ajudar a educar as novas gerações.
Agora conheço a História de vida do Tirone Feitosa. Depois que o Edmo postou aquela foto do Circo de Leituras, dias atraz, quis saber um pouco mais. Aí então, vi esse vídeo. Agora o vi novamente. Gostei muito de sua atitude de compartilhar a sua maior "Fortuna", que é o seu conhecimento, com as crianças menos favorecidas que logo farão parte do futuro do Brasil.
Dos três filmes só assisti no cinema " O Homem da Capa Preta" a historia do deputado carioca Tenório Cavalcanti que era conhecido por abrigar debaixo de sua capa preta uma metralhadora e chegava e entrar em plenário assim. Muito bom o filme estrelado pelo José Wilker.
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