quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Loucos Delmirenses

Pegando o gancho de comentários na postagem anterior, aproveito para fazer o resgate após cinco anos(isto mesmo pessoal o blog já tem cinco aninhos. Raridade isto em termos de blog) de um texto sobre as figuras loucas(?) que perambulavam pelas ruas da nossa Macondo Sertaneja. São apenas alguns nomes. Mas havia outros. O desafio final é resgatarmos que outras figuras um tanto tristemente folclóricas ainda permanecem no imaginário coletivo.


DE MÉDICO E LOUCO TODO MUNDO TEM UM POUCO
Texto originalmente postado em: 14 de novembro de 2004.

Toda cidade tem algumas pessoas que fogem dos padrões “normais”, algumas delas são chamadas de loucas. No entanto cada uma delas tem uma história de vida. Geralmente desconhecemos a “origem de sua loucura”.

Na nossa infância ouvimos histórias a respeito dos loucos locais, e sentimos um certo temor destas pessoas. Há muita invencionice e folclore. Nada provado obviamente. Mas a tradição permanece e passa de geração a geração.

Da minha infância delmirense lembro-me de alguns:

CHICO DO BERIMBAU: Um rapaz moreno, magro, baixo e meio curvo, e que levava para todo canto um tosco berimbau. E ficava tocando-o encostado no ouvido. Quase não falava. Mas quando a meninada de forma perversa o apelidava de Tarzan ou Bilu Tetéia, choviam pedras para todos os lados. Diziam que ele foi trazido da cidade de Pão de Açúcar, e que por lá residiam alguns parentes seus. Eu particularmente morria de medo delo.
Ele costumava fazer seu ponto na calçada da casa do Sr. José Raul, ali onde hoje é o Banco do Brasil.

BAU :Tinha este nome por apenas balbuciar. Não falava nada inteligível. Fedia muito. Não tomava banho e andava maltrapilho. Periodicamente pegavam-no e davam um banho forçado. Mas era um doido-manso. Não metia medo. O grande divertimento era quando alguém passava próximo dele e falava: Bau dá um tiro. Ele respondia bem alto pêiiii pêiiii. Praticamente era a único som que conseguia pronunciar.
Ele geralmente ficava ali na Rua dos Correios, pelas proximidades da venda do Sr. Antonio Perna Santa.

AMÉRICO CARVOEIRO : Um senhor alto e barbudo. Suas roupas eram negras da fuligem do carvão que vendia. Fedia muito. Sua característica marcante era que ele tinha um excelente vocabulário. Falava muito bem. E não sei a veracidade. Mas ouvi muitas vezes minha mãe falar, que ele foi estudante de medicina. E que a sua loucura foi proveniente de uma desilusão amorosa! A sua figura metia medo na meninada. Ninguém mexia com ele. E quando passava pelas ruas, geralmente havia um certo temor da meninada.

SIVINHA :Era filho do Sr. Aristides Preto, morava naquelas casas que ficam por trás do prédio da atual prefeitura. Naqueles tempos, ali era um terreno baldio, e havia algumas algarobas. O Sivinha passava os dias consertando um carro de madeira. Ele era um sujeito forte e corpulento. Tinha o raciocínio de um criança de uns 5 anos de idade. E o seu sonho era tornar-se um caminhoneiro. Sempre falava que iria comprar um caminhão para viajar para S.Paulo. Seu apelido era Mussolino. E quando provocado além de falar um monte de palavrões, jogava pedras também.

MARIINHA: era filha do Zezinho Barbeiro, e morava quase em frente a minha casa, na Rua Augusta. Talvez não fosse louca, e sim apenas não tinha controle sobre a bebida. Pois quando isto acontecia, ela andava pelas ruas cantando em voz alta e levantando as roupas. A meninada se divertia com isto. Diziam que ela era uma pessoa que levava uma vida normal. E que havia ficado assim, após o rompimento de um noivado. Casamento já marcado e tudo. Estranho isto. A história dela era um pouco parecida com a do Américo Carvoeiro. Talvez os tempos realmente fossem outros. As pessoas perdiam o juízo por amor. Fato raro hoje em dia.

Estes eram alguns dos loucos que povoam as minhas lembranças delmirenses.Outros surgiram depois.

A Rouse Vilar, uma amiga do Orkut, conta por lá que na sua infância ela morria de medo de uma senhora chamada ISAURA, que andava pela rua do ABC, diziam que ela virava lobisomem. Portanto a Rouse se pelava de medo, quando a via.

O Monteiro Mafra, meu primo, lembrou ainda no primeiro site SOCORRO DOIDA, uma mulher que andava pelas bandas da Vila Operária, e que uma certa vez, matou um uburu e o cozinhou. Diz ele que foi um fedor infernal.

E aí será que há novos loucos na cidade? Conte uma história para gente.

22 comentários:

Anônimo disse...

O post não mencionou o Ciço Geoba. Ele quando queria cagar não escolhia um local privado, cagava em qualquer. Certa vez presenciei ele cagando em plena via pública (em frente a igreja nova em construção), não se impostando com os transeuntes. Foi grotesca a cena.

Danúbio de Oliveira disse...

Ciço Geoba e Ciço doido eram a mesma pessoa. Bastava olhar pra ele por mais de 02 segundos que ele punha o dedo em riste e dizia " É o C... da Mãe!!!" ( aquele monossílabo tônico...) não importando quem estivesse por perto. Ele morava, como disse no Post anterior, na casa da d. Madalena e Sr. Manuzinho ferreiro. Na moxila do Ciço tinha de tudo. Candeeiro, ximbra, cordão, pedaços de arame e papéis velhos que ele misturava com comida que o davam de esmola. Uma vez num lampejo de lucidez ele me reconheceu e quis me dar de presente uma mariola amassada e imunda que alguém havia lhe dado. Eu mais que com medo que por interesse, recebí. No primeiro momento que ele desviou a atenção, joguei fora e fui correndo lavar as mãos. (acho que nem as formigas comeram aquilo. E se comeram devem ter morrido fulminantemente.) Mas quando iniciei essa prosa, queria mesmo era lembrar da " Maria de Biliu". Ela tinha uma casa na mesma rua que eu morei e no quintal dessa casa, havia um Grande pé de Tamarindo que a meninada fazia às escondidas um verdadeiro catado. Cada um levava uma sacola, bisaco ou bornal que invariavelmente saíam cheios. Quando roubávamos sem ela perceber ficávamos eufóricos e felizes com a proeza. Quando ela percebia qualquer movimentação suspeita em seu quintal, lá vinha ela com paus pedras, palavrões e as pragas mais terríveis. Todos corríamos nos espalhando pra todos os lados. Para deixarmos ela mais doida ainda alguém abria o berreiro e perguntava: - Quem descobriu o Brasil? em côro nós mesmos respondíamos:- Foi Maria de Biliu!!!- ela ficava endiabrada mas não podia correr como nós e acabava ficando por isso mesmo. Só sei que se suas pragas tivessem vingado eu não estaria aqui agora contando histórias...

Anônimo disse...

Lembro-me de alguns nomes inusitados como: Montila que era um maluco que desgarregava sacos no mercado público.Galinha de nequito, que vivia na igreja velha.
Cleide.

André disse...

Não posso deixar de lembrar também de TONHO VIOLÃO, um doido de certa forma semelhante a CHICO DO BERIMBABAL, seja na aparência física, seja na indumentária. Estou meio esquecido, porém, qual era o jeito que a garotada fazia para irritá-lo...rsss. Gostaria de saber que fim levou e, se morto (provável), como e onde foi. Ele vivia passando muito pela Rua 13 de maio e costumava "hospedar-se" na casa de Maria dos Campinhos (povoado campinhos), que por sinal, é uma das poucas que ainda mantém residência lá há pelo menos 35 anos, isso só do meu conhecimento. Deve ser mais, em que pese propostas de comerciantes em adquirir a casa, coisa que ela rechaça veementemente, rss...segundo ela, já ofereceram mais de 100 mil reais, o que é um ótimo valor considerando o interior de Alagoas e o valor de mercado

Anônimo disse...

Havia também o Pedrinho. Ele era mudo (emitia apenas grunhidos). Sus feições se assemelhavam às feições de um chimpanzé. Ele era inofensivo, um jeitão acanhado. Quando alguém o encarava, logo ele ficava sem jeito, se escondendo com as mãos.

Eduardo Menezes disse...

Esse não era pedrinho, é o Lula. Ainda vive.

André disse...

e um que recentemente teve post aqui no Blogger: Miltinho. Imitava bezerros e bodes como ninguém, sempre que solicitado...rss

Anônimo disse...

Havia também os psudo-doidos (doidos que não eram doidos ou se faziam de doidos). Um exemplo é o Geraldo Bocão (filho do Xico Sanfoneiro). Todos o tratavam como doido. Mas ele foi um "doido" que deu certo. Soube que hoje ele é um muiti-milionário lá em São Paulo. Ou nos que éramos os doidos?

Anônimo disse...

pseudo-doidos

César Tavares disse...

O Geraldo Bocão era exagerado(eufemismo para mentiroso mesmo) em suas histórias e causos. Mas daí dizer que ele era doido é uma grande distância. Mas sempre foi um boa-praça. Um sujeito divertido.

Paurílio disse...

Dos citados no texto, apenas me lembro de Bau e Américo Carvoeiro.
Bau era mesmo sujo, fedorento, não falava direito. - Américo Carvoei-
ro ou, como aprendi a chamar, Américo Doido, transmitia a nós, meninos da minha época, um certo terror. Seu aspecto era de meter medo a qualquer um que não soubesse que se tratava de pessoa pacata. Coberto de pó de carvão, dos pés à cabeça, vestes rotas, diziam que trocava de roupa uma vez no ano. Muitos garotos zombavam de Américo, gritando apelidos como: "engenho d'água", "pau de arara" e, como era de se esperar, ele reagia. Talvez até para tentar conter os meninos, muitos adultos contavam fatos sobre o Carvoeiro, por exemplo, dizendo que deu uma surra num garoto por ter este lhe jogado um desses apelidos e que tal garoto chegou a vomitar sangue. Creio mesmo que era mais lenda, apenas para amedrontar a garotada, evitando que se aproximasse do Américo.

Anônimo disse...

Hoje, certamente há muito mais doidos perambulando pelas ruas de Delmiro. Os manicômios estão sendo desativados e, consequentemente, um mar de malucos estão indo para as ruas.

Anônimo disse...

... está indo...

César Tavares disse...

No passado se falava que havia um "caminhão de doidos" para chegar. Parece-me que as prefeituras de vez em quando recolhiam seus doidos locais e faziam intercâmbio com as cidades circuvizinhas. Isto é fato ou lenda urbana?

Unknown disse...

Acho que Isaura morava em frente da minha casa, na COHAB 55. Ela possuia uma cachorra camada Bolita que caçava calangos pra comer. Quando entrava nos cio, era um desespero pra Isaura. Os cachorros entravam pelas janelas de sua casa e faziam uma algazarra. Ela só teve sossego quando meu pai pegou Bolita e levou pra caçar preás em um sítio afastado.

Unknown disse...

Iremar fez o comentário acima, mas continua apanhando pubicar o comentário.

Unknown disse...

PU-BLI-CAR!!!!!

Zennus disse...

Isaura era uma mulher que causava medo as crianças. Por não pentear os cabelos, era vista como bruxa e muitas pessoas a tratavam como tal.
Lembro-me muito bem desta figura folclórica de nosso macondo. Ela morou por um tempo em uma casinha entrando no beco que hoje faz parte do depósito da Paulistinha. Minha casa tinha um muro enorme e às vezes brincando no mesmo, via algumas crianças e jovens atormentando aquela pobre mulher. Ela não era uma pessoa ruim. Apenas gostaria de ser respeitada como as outras pessoas. Quem pode se aproximar mais dela, pode ver o quanto de amor que ela tinha para dar. Pena que somente a cachora bolita que compreendeu o verdadeiro amor existente em Isaura.

Paurílio disse...

Outra época, quando comentamos sobre os nossos doidos, neste blog, surgiu o nome de Mira. Ela não era louca. Aparentava ter um certo desequilíbrio mental. Não atirava pedra. Era rezadeira e conhecida de muitos na nossa cidade. Morava no Desvio, nas proximidades da estação ferroviária. O que nos levava a crer no desequilíbrio de Mira era o fato da mesma sempre aparecer com uma história de noivado. Um dia dizia que ia para o Rio, pois estava noiva de Getúlio Vargas e ia casar. Outro dia dizia que ia se casar com seu Antônio Carlos, dono da fábrica. Mesmo assim, muitas mães confiavam nas rezas da gentil senhora sobre suas crianças que curavam espinhela caída, quebranto, moleira baixa e outros. A recompensa pelos serviços de Mira, geralmente era representada num pacote de açúcar ou de feijão e outros víveres. Mira sempre estava acompanhada de um carneirinho.

Paurílio disse...

Lembro-me também de um personagem do meu tempo de menino. Nos comentários antigos sobre os nossos loucos o nome dele foi citado, se não me falha a memória pelo Professor Paulo da Cruz. Trata-se de Sebastião. Já era homem feito, bigodudo, sempre sorrindo... Morava com uma senhora por nome de Generosa, depois das últimas casas da rua Treze de Maio (de cima), já num matagal, indo para a Manga dos Bodes. Sebastião sempre passava na minha rua, a Rui Barbosa, com um pote nas costas, levando água. Os meninos corriam logo para dar ordens ao coitado, mandando que ele se ajoelhasse e lhes pedisse a bênção, no que eram atendidos. Certo dia Tião estava com dor de barriga e correu para o mato, tirou as calças e se aliviou. De repente um barulho diferente - um avião teco-teco da fábrica sobrevoava aquela área e o pobre do Sebastião que nunca tinha visto aquela coisa, desembestou pra casa, nuzinho da silva, assustando dona Generosa que com muita dificuldade acalmou o seu protegido, fazendo-o entender que aquele bicho não mordia ninguém.

Micro Center disse...

Amigo César, muitas vezes o sr Ciço Jeoba passava algumas horas na minha casa, almoçava e gostava muito da gente já que minha mãe nos proibia de apelidalo cujo o mesmo era peru baixeiro, e ainda chamava mamãe de madrinha e papai sr sales de capitão, e gostava muito de comer peixe principalmente a cabeça do mesmo,o bau e o chico nos conhecia e muitas vezes encontravamos eles se degradiando com os moleques na ruá da fabrica perto da minha casa cuja ficava vizinha a lia de zé galego na olavo bilac enfrente a praça muitas vezes papai dava doces mariolas e estes ficavam felizes. obrigado por aborda este testo pos me fez muito recordar da minha maizinha cesar.abraço amigo.

Cliuton disse...

Senhor César, a história do Americo Carvoeiro não é bem aquela. Não teve nada de amor mal correspondido e nem ele estudou medicina. Naquela época, ele, ainda rapaz estudou em recife, mas apenas coisa de ginásio mesmo. Ele realmente falava bem. O que aconteceu com ele foi que, nos tempos das volantes, no meio das caatingas em perseguição à Lampião (ele e tantos outros eram contratados pela policia para ajudar na captura dos cangaceiros), muitas vezes tinham que tomar água contaminada, quente, de poços infectados etc. Numa dessas excursões ele pegou uma pneumomia pesada. Seu pai o levou a Paulo Afonso, ele se curou mas ficou com problemas mentais. O nome do seu pai era Manoel Livio, tinha uma loja (Loja do Povo) na antiga Rua do Progresso. Essa loja foi vendida ao Sr. José Vieira, pai do Dimas, que depois ficou com a loja por herança. Bem, eu e o américo, por parte de pai, éramos irmãos. Só que ele foi do primeiro casamento. Detalhe; o Américo tinha uma memória de fazer inveja, se ele te vendesse fiado, podes crer, mesmo sem anotar, não esquecer! Um abraço.