Após alguns dias de inatividade, eis que damos ares de nossa graça. E, na falta de material novo, estamos resgatando dois textos postados originalmente em agosto de 2005, no primeiro blog da nossa série.
Os textos falam sobre algo que já não existe mais: Os famosos cursos de Admissão ao Ginásio.
ADMISSÃO AO GINÁSIO
Texto do Prof. Paulo da Cruz.
O texto abaixo é as lembranças do Prof. Paulo da Cruz sobre seus tempos de estudante do Admissão ao Ginásio em Delmiro Gouveia nos anos 60. Como o post iria ficar muito grande dividi em duas partes: Primeiro o Paulo. E logo aí em cima um texto meu complementando o tema.
Prof. Paulo da Cruz nos anos 60.
Um cara que amava os Beatles e os Rolling Stones.
ADMISSÃO AO GINÁSIO
Ao falar sobre admissão ao ginásio e sugerir um futuro texto no seu blog sobre o assunto você me despertou para escrever este texto.
O exame de admissão, que funcionou no Brasil de 1937 até 1969 era uma espécie de vestibular entre o curso primário e o ginasial, ou seja, após completar o quarto ano primário o aluno se quisesse continuar a estudar tinha que passar no exame de admissão.
Eram tantos os alunos que a turma foi dividida em duas. Uma à tarde e outra à noite. O professor, Geraldo Liberal, diretor do Ginásio Vicente de Menezes, era de meter medo. A turma da tarde, composta em sua maioria de "molecotes", era conduzida com rédea curta. Acho até que a disciplina imposta me ajudou, pois deixei os passarinhos e me dediquei só a estudar resultando daí que obtive a primeira colocação na turma. O engraçado é que muitos anos depois o filho desse professor foi meu aluno na faculdade e ele próprio meu colega. Eu nunca tive oportunidade de dizer-lhe, porém que ele me metia medo.
O livro que estudávamos era massudo. Tinha capa dura, amarela e era dividido em quatro partes: português, matemática, geografia e história. Quando já estava cursando o segundo grau tive a oportunidade, junto com Abrahão, de ministrar um desses cursos preparatórios. Abrahão deve lembrar de quem foram os alunos. Só lembro de Sonia, de Zé Pedrão e Zé Bispo, filho de Mané Bispo.
Como livro era coisa rara, e era necessário para acompanhar o curso, o aluno utilizavam o expediente de comprar o que já tinha passado. Quem podia comprava na loja do Seu Zé Maria, comerciante de tecidos e outras mercadorias, além de proprietário do Cine Real, que os adquiria em Recife e os repassava a moçada. Ele vendia além do livro do Admissão ao Ginásio os outros livros para todo o curso ginasial.
Lembro que passei todo o ginásio comprando os livros ao Zé Maria e imediatamente colocando uma capa, para não sujar, com o objetivo de vendê-los no início do ano seguinte. Como eu tinha muito cuidado com meus livros, hábito que carrego até hoje, tinha sempre pessoas interessadas. Tinha até freguesa certa, uma garota muito inteligente que morava no Desvio e cujo pai tinha uma mercearia por lá.
Essas são algumas das lembranças que carrego dos meus tempos de estudante no Vicente de Menezes. Acho uma pena o exame de admissão ter acabado. Era uma tortura, mas ajudava a nivelar a garotada que ingressava no ginásio. Hoje estão querendo acabar até com o vestibular. Acho muito errado. Quem está na sala de aula hoje já sofre com o desnível dos alunos, com vestibular e tudo, imaginem sem vestibular. Aqui em Santa Catarina já tem universidade particular oferecendo ingresso só com o exame da vida escolar. O negócio é encher as burras. Continuo achando que a concorrência é salutar e só faz ajudar a todos a procurarem ser mais competentes.
Um abraço, daqui de Floripa,
Paulo da Cruz
E aí o Paulo contou a história dele. Falta a sua. Manda prá cá. Aguardo.
ADMISSÃO AO GINÁSIO (Turma de 1973)
Texto de César Tavares
Complementando o texto do Prof. Paulo. Mesmo oficialmente acabando o exame de admissão em 1969, a prática permaneceu em DG por alguns anos. Pois em 1973, eu passei o ano inteiro estudando para o exame no GVM. Tinha feito o primário no Grupo Escolar Francisca Rosa da Costa.(1970/72) e minha mãe achando que eu não tinha conhecimentos suficientes para enfrentar o teste direto, colocou-me para estudar o famoso Admissão ao Ginásio.
O curso funcionava no prédio do Sindicato dos Tecelões. No entanto estava havendo reforma por lá, então foi utilizado um pequeno salão na rua adjacente. Não lembro mais o nome da rua. Mas podemos dizer as coisas de um jeito bem delmirense: A rua onde ficava a casa do Amélio Costa. E aqui a minha história cruza com o texto do Prof. Paulo. Tínhamos duas professoras: Risalva, filha do Rosalvo Oliveira (posteriormente ele foi prefeito em DG), e dono da mercearia que fica quase na esquina com a D.Pedro II. Risalva ministrava as aulas de Português e Matemática.
Prédio do Sindicato(em jan/2010) onde funcionava o curso de Admissão. Em 1973 passava por reformas. |
Em 1973 o curso de Admissão funcionou provisoriamente numa destas edificações. Não lembro mais qual seja. Era bastante próximo da antiga mercearia do Rosalvo Souza. |
E a outra professora era Zélia, irmã do Cabelinho, e filha de Maninha que também tinha uma venda ou bar quase ao lado do paredão do açude pequeno. Como as duas professoras eram muito inteligentes e competentes, suponho que alguns anos antes, uma delas era a tal compradora dos livros usados do Paulo. Ou seja já era um prenúncio de alguém que gostava de estudar.
O livro que estudávamos tinha uma capa azul com umas moças segurando uns livros e em letras garrafais o título ADMISSÃO AO GINÁSIO. Eu particularmente ficava encantado com as ilustrações: bandeirantes com suas indumentárias, as batalhas da Guerra do Paraguai (logicamente o Brasil ganhava todos e os brasileiros eram bonzinhos e o Solano Lopez o tirano malvado. Anos depois ao ler o livro do Júlio Chiavennato O genocídio americano cai na real) e os mapas coloridos na parte de Geografia.
Pesquisei um bocado na net tentando conseguir uma imagem deste livro. Mas não obtive sucesso. Caso algum leitor consiga gostaria que enviassem uma cópia para mim. Porque até procurar o livro em sebos recifenses fiz.
Foi neste curso que finalmente consegui aprender expressões numéricas. Eu tinha uma enorme dificuldade para entender aquele monte de parênteses, colchetes e chaves. Mas a Risalva tinha a salutar técnica de obrigar o aluno ir ao quadro. E o camarada só saia quando fazia o exercício correto. Graças a isto finalmente consegui aprender. Morrendo de vergonha na frente da turma. Mas errando, repetindo até acertar. Duvido o camarada esquecer mais disto.
A turma era pequena. Mas no final do ano todos passaram nos testes do GVM. Não lembro o nome de todos os colegas. Mas aqui vão alguns:
Tânia Mafra, minha prima. Formou-se em medicina e vive trabalhando e estudando loucamente no eixo DG-Maceió;
Ricarti Mafra, irmão da Tânia, administrador, ainda mora em DG e trabalha na Fábrica da Pedra,
Ni e Nel, irmãos da prof. Risalva. O Nel formou-se em engenharia química. O Ni não tenho certeza, mas parece que também fez o mesmo curso. Ambos residem em DG.
Cláudio Cardoso, filho do famoso e temível Zé Galego chefe do Departamento Pessoal da Fábrica. O Cláudio a última vez que conversei com ele(em 2002) estava fazendo Mestrado e trabalhava como professor em DG;
Maria Patrícia Oliveira(Paty Pedrão): filha do Zé Pedrão("dono do Cine Pedra") e prima do Cláudio Cardoso. Paty continuou com a turma nos tempos de Ginásio Vicente de Menezes. Professora dedicada e militante das causas sociais e culturais delmirenses até os dias de hoje. Grande amiga com a qual a amizade é mantida após tantos anos.
Roberto Marques(Bé,) irmão de Dimas da loja de ferragens e também meu primo. Bé não chegou a terminar o admissão. Abandonou o curso no meio do ano. O Bé faleceu muito jovem vitimado por seqüelas de uma diabetes que tinha desde a infância e tardiamente detectada;
Das outras pessoas não tenho maiores lembranças. Vagamente me vem a mente os nomes do Jorge e a Cida. Mas as recordações se dissipam na poeira do tempo. Uma boa desculpa para quem está ficando velho e os neurônios já não são mais os mesmos.(risos).
Tânia Mafra, César Tavares e Ricarti Mafra em janeiro de 2010. |
Com Paty Pedrão e Ni (camisa azul clara) em janeiro de 2010
E aí você já tinha ouvido falar na existência deste bendito curso de Admissão ao Ginásio? Conhece ou lembra dos seus colegas de turma? De todos eles? Ou você já está ficando meio esquecido feito eu? Conte a sua história por aqui.
Em breve tentarei fazer um post sobre algo muito marcante e importante que fiz em DG. Algo que mudou minha vida para sempre: UM CURSO DE DATILOGRAFIA. na Escola Nossa Senhora da Paz, de Jacira esposa de Sebastião do Armarinho. (risos muitos risos) com direito: a diploma com fotografia de paletó e gravata borboleta.
17 comentários:
César,
Mesmo não sendo uma postagem nova é sempre prazeroso rever as mais antigas. Forte abraço, Genilson
Pois é Genilson. Tenho que ir resgatando aos poucos e ir postando na ausência de material novo. Tb é importante o resgate, pois os blogs antigos correm o risco de serem tirados do ar pelo provedor por inatividade. Grato e abraços.
César
O tempo passa, e, com ele caminhamos todos juntos, sem parar, nossos passos pelo chão vão ficar...
Em 1973 comecei a estudar no grupo escolar francisca rosa da costa, na época nós morávamos vizinho ao Paulo Roberto ( popular Beto de Dolores) bem próximo ao sindicato dos tecelões onde existia o tão temido curso do Admissão. O meu pai era um comerciante e sempre falava desse tal curso para o ingresso ao GVM, e que os filhos dele sempre parava de estudar neste paredão, mas ao mesmo tempo ele elogiava o curso e condenava os filhos por não ter interesse no estudo. Graças a Deus na minha época não existia esse paredão, e, sim uma disciplina um pouco rígida, onde os livros didáticos já faziam parte do roteiro escolar. Lembro-me como se fosse hoje dos protagonista do meu primeiro livro da primeira série, que são: Fernando, Silvinha e Benedito. Quanto a sala de aula, recheadas mais ou menos de quarenta analfabetos, à professora Lenilda se virava nos trinta em passar conteúdo das matérias que faziam parte do currículo da época. Saudades, saudades...
Reginaldo de Bastião.
César, sinto-me muito honrado em ter feito o curso de admissão.Foi aí que conheci o colega Márcio Anjos e a colega Márcia Anjos. Foi uma época maravilhosa...lembro que todos os colegas eram pessoas agradáveis...eu ficava ansioso para assistir às aulas. Aprender mesmo, acho que não aprendi nada, mas era um péríodo muito bom e eu me sentia o máximo com aquela farda super ultra cheguei e um sapato Conga legítimo rsrs
Fiz meu curso de admissão no Ginásio Paulo Afonso e o livrão adotado era o que está na primeira ilustração. Não sei se estou me confundindo, mas me parece que esses livros PROGRAMA DE ADMISSÃO traziam algumas figuras com paisagens campestres, de cidades, etc, para que baseados no que víamos fizéssemos uma composição. Aí, o que valia mesmo era a criatividade de cada um.
fiz meu curso de admissão com a
professora pretinha filha do temivel diretor do ginasio,o tenentemonteiro,tive o privilegio em não fazer o 4 ano primario,após a admissão, fui para primeira serie
ginasial.
Meu amigo Caçula
Estudei com você exatamente nesta turma da professora Pretinha em 1971. Você continua morando em São Paulo?
A minha turma de Admissão, que tinha como professoras a Dona Zélia e a dona Dum (Erenice Gomes)in memoriun as duas, foi marcada como uma das últimas ou a última que funcionu no Sindicato. Caso alguém estudou posterior, publique.Sempre bom ler comentários de velhos amigos da nossa Macondo, Reginaldo e Caçula abraços.
Paulo Roberto pergunto: Dum era uma jovem senhora bastante avantajada em peso e que trabalhava também no armazém do Seu Dom?
César
Isso mesmo César, a mesma foi professora também no GVM, era esposa de Edgar, que trabalhava no Banco do Estado de Alagoas e residia na rua Delmiro Gouveia. Uma pessoa maravilhosa, a escola do Desvio leva seu nome "Escola Estadual Professora Erenice Gomes" Dona Dum.
Cesár,
Achei muito hilário a recordação da escola de datilografia, tenho Diploma(de gravata e tudo)em quadro de parede era um orgulho para os pais em afirmar "meu filho tem diploma de tilogra". Quanto a minha turma de Admissão(ano de 1975) Elinha(irmã de Dona Zélia), Vania(esposa de Wilson ),Mirian e Edson(irmãos, filhos de Cicero Patacha), Adeilson(irmão de Aldo do Posto)Cleto(mora no Bonsossego),Manoel(reside no Piau, em Piranhas), a memória falha, quem estudou nessa turma?
Meu grande amigo Jairo, prazer em ter
contato com você,moro a 21 anos em
são bernardo do campo,eu tambem lembro de você.
um forte abraço.
César,
Falar sobre o "Admissão ao Ginásio" leva a um forte retorno ao passado. O curso tinha a sua importância, pela revisão que fazia dos assuntos "aprendidos" nos quatro anos do curso primário. Funcionava como uma espécie de vestibular, tanto que após o quarto ano bastava se submeter ao exame e, caso aprovado, ingressar no ginásio. Era comum haver um cursinho preparátório, no intervalo entre o encerramento das aulas no grupo escolar e o dia do exame. Eu fiz esse cursinho e tentei entrar logo no ginásio. Não obtive êxito (felizmente) no exame. Se tivesse sido aprovado provavelmente minha vida teria tomado outro rumo. Fui obrigado a cursar o admissão durante todo um ano. Minha turma era vespertina. Tinha outra turma à noite. Por aí se vê quantos estavam tentando ingressar no ginásio. Isso foi durante o ano de 1971. Faz um tempão. O livro usado, pelo que lembro, era semelhante, se não o mesmo, ao que aparece na foto postada por você. Não está fácil encontrá-lo nos dias de hoje. Uma busca em sebos pela Internet mostrou apenas três exemplares disponíveis, alguns em péssimo estado de conservação. Quanto ao preço, está nas alturas, por conta da sua raridade. Resolvendo o mistério, quanto a identidade da compradora dos meus livros, posso dizer que as opções que você listou a incluem. Era Risalva Oliveira, filha do seu Rosalvo. Os meus livros, graças aos cuidados que recebiam de minha parte, eram disputados. Normalmente em setembro já começava a ser sondado quanto a possibilidade de realizar a sua venda, ao final do ano. A venda de livros era comum em DG naquela época. Além de ajudar a comprar os livros para o ano seguinte evitava que os antigos ficassem sem utilidade, na falta de um irmão mais novo na fila de espera. Livro escolar é para ser usado, quanto mais se usa mais ele cumpre seu papel de disseminador de conhecimentos.
Paulo da Cruz
Very descriptive post, I loved that bit. Will there be a part 2?
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Ao reler o texto "Admissão ao Ginásio", que encabeça esta postagem, fiquei envergonhado com a quantidade de erros, cometidos por mim, no trato com a língua culta: falta de conectivos, vírgulas e outras coisas mais. Isso foi resultante da pressa em escrever, e da ausência de uma boa revisão final. Fica a lição aprendida. Precisarei ter mais cuidado no futuro.
Paulo da Cruz
Ola, cheguei em esta pagina procurando ao Sr. Prof. Paulo da Cruz. Estou escrevendo um livro no qual gostaria incluir um outro relato que achei de ele na internet e gostaria solicitar a autorização de ele para tal fim.
Por gentileza, poderiam me ajudar a entrar em contato com ele?
Meu correio eletrônico é: lcaponi@gmail.com
Grato.
Leonardo Caponi
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