terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Quando o Mundo Iria se Acabar" (Delmiro Gouveia anos 70)




Aproveitando que estamos chegando próximo ao final de 2011. E considerando o que dizem as lendas dos antigos povos  Maias ( e os cineastas de Hollywood ) que o mundo se acabará em 2012, estamos trazendo um texto postado em abril de 2005, ainda no primeiro blog da série Amigos de Delmiro, onde relembrávamos que no inicio dos anos 70, "o mundo também iria se acabar".



Ou seja: este negócio de fim do mundo é meio cíclico. Em todo caso estamos avisados. O mote originalmente foi dado por um poema do Edmo.  Vamos ao que interessa.


Valhei-me
Para: Tia Helena
Autor: Edmo Cavalcante.

Valhei-me minha Nossa Senhora
Chegou por esta região
Uma notícia de arrepiar
Por uma boca só o povo tá falando
Na feira outro assunto não se dá atenção
Se pegue com Padinho Ciço e Nosso Senhor
Se quiser escapar dessa
Pelo que o povo dia esse um conselho de Frei Damião
Corre logo na feira não perca tempo não
Compre uma cruz de palha
Pregue na porta de sua casa
Reze o terço completo
Se pegue com tudo que é santo que o valha
Compre também carvão
Enterre bem no chão.
São três pedaços. Não esqueça de fazer uma oração
O carvão é prá enterrar na cozinha.
Se não tiver jarra pode embaixo da quartinha
Valhei-me Minha Nossa Senhora que noticia desmantelada
Veio chegar por esse sertão
Pode até ser boato
Mas é bom se cuidar: muita reza, cruz de palha e carvão
É melhor não confiar.


O texto acima é do Edmo Cavalcante. O fato narrado em forma poética é verdadeiro. Eu lembro perfeitamente.

Naqueles tempos (início dos anos 70), o misticismo ainda era muito grande no sertão. E não se sabe de onde surgiu o boato que o mundo iria se acabar. Diziam que o Frei Damião tinha dito que a casa que não tivesse três pedras de carvão embaixo do pote na cozinha estaria condenada. E tome gente a arrebentar o piso e cavar em busca destas pedrinhas. Como se não bastasse a lenda que do ano 2000, ninguém escaparia.

Era lenda. Um terrorismo danado para nossas cabecinhas infantis.  Nesta época eu morava na casa dos meus avós maternos. E por eles não embarcaram nesta onda não. Foi um dos poucos.

No entanto, salvo engano, o Edmo traz uma versão um pouco diferente. Creio que não era para comprar o carvão. Era para que em cada casa, se cavasse embaixo do pote(jarra) e teria que se encontrar três pedras de carvão. E com estas pedras fazer uma cruz na parede frontal da casa. Assim este lar estaria protegido contra o fim do mundo. E se não tivesse pote que se cavasse embaixo do local onde ficava a quartinha (um pequeno vasilhame de barro onde se colocava a água para esfriar).

As cruzes de palhas de coqueiro eram utilizadas em outra ocasião. As pessoas no Domingo de Ramos, levavam palhas para serem abençoadas pelo padre na hora da missa.  E com estas palhas confeccionavam pequenas cruzes, bem simples, e as colocavam coladas na porta da frente. Desta maneira ficariam livres de todos os males. Amém.

E aí você ainda lembrava destes fatos? Ou ao menos ouvir falar disto? Será ainda é possível se encontrar nas portas das casas mais simples a cruz de palha? Ou este costume também se acabou? E você que não morava em Delmiro Gouveia, conhece alguma lenda urbana como esta?  Você também tinha medo que o mundo se acabasse no ano 2000?

Deixe seu recado. Participe.

O famoso Frei Damião

Praça Padre Cícero em Delmiro Gouveia
Neste pequeno ponto comercial onde as pessoas estão em frente era a residência dos meus avós maternos.
Edmo Cavalcante é o número 2.  Rua do ABC. Inicio dos anos 70. Será que os garotos discutiam  os destinos do mundo? 

16 comentários:

Soberana Rubia disse...

Ah, vi mesmo essas cruzes de palha na porta de algumas casas no Brejinho da Serra (sítio próximo a Petrolândia-PE). Só não sabia que estavam lá por esse motivo e nem me lembro quando as vi. Com certeza foi bem depois dos anos 70, né?

César Tavares disse...

As cruzes de palhas são uma tradição sertaneja(independente de estar perto ou não do mundo "se acabar".

Edmo Cavalcante disse...

Como diria Caetano Veloso "Calma muita calma que o mundo não tem fim". Essa história do fim do mundo correu sertão afora. Não sei por que cargas d´agua surgiu, ou exatamente quando surgiu. Verdade é que a história pegou. Não lembro exatamente se procuraria o carvão ou se enterraria. Foi algo marcante naquela época. Lembro também de um período que as pessoas "viam" discos voadores ou coisas que os valham. Faltava energia constantemente, e havia espaço de sobra para histórias cabeludas. Era a nossa macondo. Tentei retratar um período de lendas e muitas crendices, um período em que a cidade era quase isolada do mundo em termos de informações. Mas também um período em que vivemos intensamente.

Anônimo disse...

Edmo sobre objetos voadores não identificados sobrevoando os céus da nossa "Macondo" há em nossos blogs o relato feito pelo Eraldo Vilar. O texto dele é tão cheio de detalhes que posteriormente revista/blog especializada no assunto pediu autorização ao mesmo para publicar.
Veja este link
http://amigosdedelmirogouveia.blogspot.com/search?updated-min=2008-01-01T00%3A00%3A00-03%3A00&updated-max=2009-01-01T00%3A00%3A00-03%3A00&max-results=37

César Tavares

Paulo da Cruz disse...

Em breves dias estarei recebendo pelo correio o livro "Quem matou Delmiro Gouveia" que talvez esclareça esse mistério antes do mundo acabar. Tentarei encontrar algum tempo (a minha agenda anda carregada) para escrever um texto e postar por aqui.

Anônimo disse...

Paulo o Gilmar Teixeira(autor do livro "Quem Matou Delmiro Gouveia" deixou seu comentário aqui no nosso blog. Vide postagem anterior(Sugismundo)


César

Anônimo disse...

Amigos de Delmiro Gouveia

Ruy Costa.

Edmo Cavalcante disse...

César, essa história do mundo acabar...eu tô mesmo preocupado é com esse site acabar kkkkkk Olha, na foto: 1-Nivaldo Cantuária; 2-Edmo; 3-Cláudio Bandeira(meu tio) 4-Jorge. Lembro muito do Jorge, era uma pessoa espetacular. Muito calmo, muito educado. Alguém sabe do paradeiro do Jorge? Cadê o Danúbio e o material que ele falou?

Anônimo disse...

Edmo o blog caminha para isto mesmo. Há tempos sem material novo. Ainda devo resgatar alguns posts que acho interessante dos antigos blogs. E como sempre dando uma customizada.

Os pequenos blogs com temas específicos como o nosso, após o advento da popularização das redes sociais(Orkut, Facebook...)ficaram meio "sem graça e sem sentido". Nas redes o dinamismo é bem maior. Enfim...

César

Eduardo Menezes disse...

Edmo

Na ultima vez que soube do Jorge, ele tava morando aqui em Maceió, trabalhando na Ceal, ou algo parecido, sei que é com coisa ligada a energia.
No mês passado vi um cara muito parecido com o pai dele, no Bompreço da Ponta Verde. Me arrependi muito por não ter falado com ele.

Edmo Cavalcante disse...

Dado, certamente se encontrar o Jorge não o reconhecerei(é uma pena). Estou admirado voçê lembrar da fisionomia do pai dele. Sou fraco nessa de fisionomia. O pai do Jorge,qual a profissão? Aquela Rural será que é do Seu George, aquela Rural que Ôreia dava as banguelas mais esticadas da história do automobilismo provinciano macondiano? kkkkkkkk

Edmo Cavalcante disse...

Dado, certamente se encontrar o Jorge não o reconhecerei(é uma pena). Estou admirado voçê lembrar da fisionomia do pai dele. Sou fraco nessa de fisionomia. O pai do Jorge,qual a profissão? Aquela Rural será que é do Seu George, aquela Rural que Ôreia dava as banguelas mais esticadas da história do automobilismo provinciano macondiano? kkkkkkkk

Luiz Reginaldo Silva disse...

Cesar,

Passar por aqui é sempre aprender um pouco mais.

Desejo de um Feliz Natal e que o Ano Novo seja repleto de realizações, cheio de alegria, amor e paz!
Abraços fraternos!

Anônimo disse...

Grato Luiz. O mesmo para vc é os seus. Tudo de bom em 2012. Abs


César

Anônimo disse...

Não o blog ainda não acabou. Estive por 5 dias na nossa Macondo e consegui algum material, assim como tb fiz algumas imagens. Em breve postarei. É só deixar a preguiça das férias passar...abraços a todos.

César

Iremar disse...

A princípio, pensei que o número 1 da foto era eu...