segunda-feira, 18 de março de 2019

Delmiro Gouveia: Um Trem de Saudades ou os Bigus do Menino Abrahão.


Para o blog não ser desativado e considerando que é fonte de consultas para muita gente, resgato  ipsis litteris texto original de 08 de agosto de 2005,  publicado na primeira versão(blogger).  E  aproveito acrescento um link para endereço onde há todo o histórico e imagens da antiga Estação da Pedra.


O texto abaixo é uma colaboração do Abrahão Lincoln P Oliveira. Até então ele era apenas um comentarista eventual do Blog. Agora passou a ser um também um colaborador. Suas lembranças, num tom poético-melancólico nos remetem ao tempo em que o trem passava por DG. Eu não alcancei esta época. Mas os comentários que ouvi ainda em criança sempre eram lamentosos. Desde meados dos anos 80 a antiga estação de trem foi transformada em museu. E por lá, em sua parte externa há uma locomotiva que guarda bastante semelhança com a descrita pelo Abrahão.

O TREM DE FERRO VISTO POR ABRAHÃO



Existem lembranças que por mais que a gente fale ou comente, somente quem as viveu pode realmente sentir o prazer de rememorar.
 Na minha infância, havia um elemento muito importante na vida da nossa cidade e região: O TREM DE FERRO.

Conta à história que no ano de 1859 o Imperador D. Pedro II visitou o nordeste brasileiro e teve oportunidade de conhecer nossa região. Homem de visão, juntamente com aqueles que faziam seu governo, observou que havia uma interrupção no fluxo de transporte pelo Rio São Francisco, pois entre o médio e o baixo São Francisco estavam localizadas as cachoeiras de Paulo Afonso, ainda virgem no tocante ¿a geração de energia elétrica. De Pirapora(MG) a Jatobá (PE),(atual Petrolândia) o rio era navegável. De Piranhas(AL) até a foz do rio, também era.

Dessas cabeças iluminadas saiu a idéia de implantar uma linha de ferro para fazer a junção dos 02 trechos do rio, tornando possível o acesso ao mar de quem viesse de Minas, Bahia ou Pernambuco.

Em 1883 a linha do trem foi inaugurada.

O trem favorecia o comercio local, pois era muito utilizado para transportar produtos agrícolas, equipamento, pessoas, animais, etc, entre Petrolândia, Delmiro e Piranhas.

Para nós crianças tudo aquilo era uma verdadeira festa a chegada do trem na cidade. Estávamos, quando possível, pegando BIGU até a estação ou da estação até o centro, escondido com medo do Sr. George Lisboa que, na qualidade de fiscal, obrigava os meninos a saltarem do trem em movimento.

Veio a "gloriosa revolução de 64" e um cearense desnaturado, desconhecedor da realidade local, vestido numa farda militar e montado no cargo de ministro de estado, mandou arrancar a linha do trem.

Quanta maldade! Mataram o trem. Desempregaram ou transferiram pais de família, cortaram a continuidade do fluxo do rio em nome da modernidade, do asfalto, do caminhão e do automóvel.

Talvez, por isso é que o Brasil não vai pra frente. Paises desenvolvidos da Europa e os EE.UU preservam, melhoram e desenvolvem seu transporte ferroviário. Nós matamos a idéia.

Abrahão.

E aí leitores que lembranças você tem do trem? Ao menos ouvir falar em sua história? Deixe o seu recado. Registre suas lembranças por aqui também. E você que não mora em DG na sua cidade teve algo assim? Conta então. Queremos saber.

PS: Bigu no dicionário delmirense é o mesmo que carona.


Um comentário:

Tony lima disse...

Gostei muito da história do trem vivida por você Abraão. só sabe e realmente dá valor, quem a viveu.