quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Circos em Delmiro Gouveia (postagem dupla)

>Resgatando dois textos postados nos blogs anteriores. Uma linha temática que conecta os dois. E assim poderemos novamente nos divertir um pouco comentando por aqui(já que nos blogs anteriores os comentários sumiram). Eu sou tanto descuidado. Nunca fiz back-up de tudo que foi postado por lá. No dia em que o provedor resolver apagar tudo por falta de visita, simplesmente perderei. Portanto peço um pouco de paciência e compreensão aos leitores/visitantes que quando trago um texto antigo para este espaço aqui é no intuito de não perdê-lo totalmente.

Mas vamos ao que interessa.

Prof. Joval Angélico Pereira. Dono do Circo Pavilhão Nacional. Prof. de Teatro no GVM. Pai da Hermância. Jovalzinho e Tairone(este roteirista de cinema nacional. Vide "O Homem da Capa Preta).
Esta fotografia foi copiada do site:
http://www.pindoramacircus.arq.br/circos/galeria/jovaleda.htm onde há uma bela matéria sobre a saga deste "delmirense" Para quem ainda não a leu recomendo clicar no link


Chegou o Circo
Texto de César Tavares e postado originalmente m 06 de dezembro de 2004


Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor.

Pipoca. Amendoim torrado. Carreguei a sua mãe num carrinho quebrado.

E o palhaço o que é? Ladrão de mulher.

Estes bordões eram cantados nas ruas delmirenses pelos palhaços dos circos mambembes que chegavam à cidade. E a criançada efusivamente seguia o palhaço repetindo-os. Assim era feita a propaganda anunciando a chegada de um novo circo.

Os circos eram armados, geralmente, ao lado da igreja velha. Ali na Vila Operária. Ou no local onde hoje está o prédio da prefeitura. Na época um terreno baldio.

Eles, os circos, não apareciam com tanta freqüência assim. Por isto, quando chegava algum, a expectativa era grande. Poucos tinham boa estrutura ou apresentavam grandes espetáculos. Um ou outro trazia animais. Entre os grandes circos lembro-me: do Thiany, do Circo Americano e do Williams Brothers.

No mais, o que aparecia, era apenas pequenos grupos de abnegados artistas populares em busca do pão-nosso de cada dia. Mas estes é que exerciam um fascínio especial. Havia uma maior identidade popular: O atirador de facas. O equilibrista. A rumbeira, os trapezistas e o mágico.

Todos se apresentavam após o mestre-de-cerimônias anunciar com grande pompa: Boooooooa nooooite !Senhores e senhoras. Respeitável público. Vocês verão agora o maior espetáculo da terra. Algo nunca mostrado. E começava o desfile das atrações. Variações em torno de mesmo tema. Quase sempre repetições de outros tantos espetáculos.

Marcou época o Circo de Colombinha. Passou meses na cidade. Não tinha cobertura. Apenas a lona lateral. Assim mesmo toda esburacada. Local para sentar somente na geral. Ou poleiro como chamávamos. Toda noite meia-dúzia de gatos pingados assistia ao simulacro de espetáculo. E o circo ia de mal a pior. Caía pelas tabelas.

E faltou grana para o Palhaço Colombinha desarmar o seu circo. E ele foi ficando. E tanto ficou que: num lance tragicômico ele seduziu uma moça.

Deus nos acuda! Valei-me Nossa Senhora! Um verdadeiro escândalo para moral ainda provinciana daqueles tempos. Um palhaço e uma donzela! Era Algo tão surrealista que talvez nem o Frederico Fellini (cineasta italiano de sucesso) conseguiria imaginar. E os comentários e especulações estavam presentes em cada conversa travada nas esquinas. Não sei como tudo acabou.

Houve uma época em que o Prof. Joval, um entusiasta da arte circense, trouxe um ânimo novo com o seu circo: Pavilhão Nacional. E apresentava entre outras coisas: peças teatrais no palco/picadeiro. Mas era meio incompreendido. E seu esforço não logrou um longo êxito. Bem ele fez à parte dele. Posteriormente no GVM ele dava aulas de teatro aos sábados. Eu curtia os seus ensinamentos. Ele era uma pessoa muito intelectualizada. E ali aprendi as primeiras noções da antiga arte grega.

Hoje quando em algum subúrbio recifense vejo algum pequeno circo, invariavelmente volta à tona a lembrança dos circos que vi na minha infância passada na cidade de Delmiro Gouveia.

E você lembra ainda de algum circo? Registre as suas lembranças por aqui.


Uma História de Amor: O Palhaço e a Donzela.

Circo Liliane (Para Tadeu Cavalcante)
Texto de Edmo Cavalante e postado originalmente em 30 de março de 2005



O Circo Liliane Chegou
Hoje tem espetáculo tem sim senhor!
Onde ele está armado?
No terreno da fábrica. Logo ali ao lado
O ingresso custa muito dinheiro?
Cavalheiro é três. Estudante e dama só paga dois cruzeiros

O Circo Liliane Chegou. Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor!

Não é nem um luxo de circo. Nem um circo de primeira linha
Mas tem riso e bizarria
Tem o palhaço Colombinha.
Ele é:
Trapezista
Equilibrista
Ator
Mágico
Cantor. Imita vários artistas famosos: Nélson Gonçalves, Waldic e Nélson Ned
Ele é o DONO DO CIRCO.

Eu estou falando de COLOMBINHA SHOW!

A bonita Liliane (quem não se apaixonou?) alegra o respeitável público
Com a sua rumba autêntica e graciosa
A turma do poleiro assobia e grita entusiasmada
Ô bis. Menina danada
Já tem gente perguntando até quando o circo vai ficar
A molecada é que não se emenda e arranja sempre jeito de maiar

O Liliane chegou!
O poleiro não é muito seguro e a lona é surrada
Mas vai assistir mesmo na base do abafa
Não tem tigre. Nem leão. Nem girafa. Elefante também não.

O Liliane chegou!
Não é nenhum circo de primeira linha.

Mas para quê tanta exigência?






Um enorme POST SCRIPTUM
por César Tavares

O texto acima em forma de poesia é do nosso colega Edmo. Ele reside em Maceió e o enviou pelos correios. O Edmo é formado em Matemática e atua no ramo gráfico e afins. Conheço-o há mais de 30 anos. Estudamos juntos de 1974 até 1977, da quinta a oitava série no Ginásio Vicente de Menezes. Para as novas gerações de delmirenses ou os de memória curta aqui vão algumas referências dos familiares dele.

Ele é filho do Edvaldo do INPS. Sobrinho da Viúva (do bar da rua da Travessa) que por sua vez é mãe do Tadeu, da Graça e da Cida. Hoje onde era o famoso Bar da Viúva, funciona a Padaria e Lanchonete Padilha, gerenciada pela nossa amiga Graça Padilha. Aliás, quem quiser saborear o melhor sanduíche da cidade lá é o local. (E espero que com este merchandising aqui no blog eu ganhe como cachê ao menos um lanche).(risos)


O tema do circo já foi falado anteriormente aqui neste blog. Mas o Edmo de forma bem criativa trouxe alguns detalhes bem interessantes. Para quem não conheceu o Colombinha cabem alguns esclarecimentos:

O Palhaço Colombinha, além de ter sido um artista polivalente, chocou a conservadora sociedade delmirense, naqueles tempos, com a sua história de amor. Ele nada mais nada menos fugiu com uma moça que iria casar-se uma semana depois. Foi um escândalo. O palhaço e a donzela. Amor a primeira vista. Um verdadeiro frisson. Nitroglicerina pura. Era assunto para todas as rodas.

Mas tudo passa. Tudo se acalma. Tudo se dilui com o tempo. E não há resistência eterna Caem-se os preconceitos. A vida continua.

E eles tiveram uma filha a qual deram o nome de Patrícia. Passaram-se mais alguns anos. Patrícia ficou adulta e casou-se com o Tadeu Mafra (fundador do Bloco do Pompeu, e um dos sujeitos mais bem-humorado, gaiato, divertido e gente boa que conheço). E agora no último dia de 2004 nasceu o Pedro Mafra. Portanto neto do Colombinha.

Comentário geral em Delmiro Gouveia: êita que este menino vai ser fogo. Com uma linhagem desta: Filho de Tadeuzinho e neto de Colombinha.

E aí você ainda lembrava do Palhaço Colombinha? Você conhece alguma história de amor com um final feliz feita esta? Conte por aqui. Deixe o seu recado. Enfim faça como o Edmo envie uma história.

16 comentários:

Danúbio de Oliveira disse...

Fechei os olhos e um filme completo passou na memória. Lembranças daquelas tardes barulhentas agitadas pela alegria da chegada do circo.Palhaço da perna de pau, cuspidor de fogo, malabaristas, rumbeiras! (hummmm que delícias!)

Mariana Galizi disse...

Linda história, César. Quisera que todas histórias de amor começassem num picadeiro e findassem no berço, em gerações de amor e paz.

Eduardo Menezes disse...

COLOMBINHA

Lembro BEM do Colombinha. Mas, o que mais fixou na minha memória não foram suas palhaçadas, foi ele cantando a música "Chuá Chuá". Embora eu fosse menino, eu percebia o prazer que ele tinha em cantar essa música, ele colocava sentimento.

Pra quem não lembra, vai o refrão:

E a fonte a cantar, chuá, chuá
E as água a correr, chuê, chuê
Parece que alguém que cheio de mágoa
Deixaste quem há de dizer a saudade
No meio das águas rolando também


JOVAL RIOS

Esse cara era bom. No Pavilhão Nacional tinha uma peça teatral, se não me engano chamava-se A Raposa e as Uvas, em que Joval interpretava um corcunda, era excelente. O cara era tão bom que fico pensando, será que na verdade ele era corcunda e na vida real ele interpretava um cara ereto? Rsrsrs, maluquice.


GINO DE LIRA

Sempre que alguém fala de Joval me lembro de Gino de Lira. Gino era um menino mais novo que eu, e que vivia mais na rua do que em sua própria casa. Por ser de família pobre, ele saía pelas ruas e quando encontrava um grupo de pessoas parava e começava a cantar para ganhar uns trocados, o cara tinha uma guela de dar inveja a muito marmanjo. Joval percebeu o talento que Gino tinha e o acolheu em sua casa, nesse período fiz amizade com o Gino. Ele também tocava violão, não sei se aprendeu na casa de Joval ou se chegou la sabendo, mas o danado era desenrolado nas seis cordas. Um tempo depois ele foi embora de Delmiro, não lembro pra onde, tentar seguir a carreira de cantor. Foi a última vez que o vi.
Taí um cara que eu gostaria de saber de seu paradeiro, espero que tenha se dado bem.

Edmo Cavalcante disse...

Dado, o nome Gino de Lira é artístico, e foi dado pelo genial seu Joval.Na verdade o nome dele é Cícero, e ele morou aqui em Maceió, pelo que me consta, até 1985.Mas quero aqui confessar, que eu era apaixonado pela Viviane e que já maiei no circo de Colombinha.Agora, cá pra nós e o mundo inteiro, Colombinha era uma figura: Seresteiro, boêmio, palhaço, alcoólatra nas horas vagas,trapezista , mágico, animador, cantor e e...t...c...

Edmo Cavalcante disse...

Correção: O nome é Liliane, e não Viviane!

César Tavares disse...

Eis aí um nome que eu não lembrava mais de forma alguma: Gino de Lira. Eduardo isto daria um belo post. Não arrisca escrever não? E melhor ainda se alguém conseguisse umas fotos dos Circos: Pavilhão Nacional e Liliane.

Edmo Cavalcante disse...

Respeitável público,acho fantástica a trajetória de vida do professor Joval Rios. Cabe, ao meu ver, que seja escrito um livro. Tive a honra, de ser aluno desse personagem que ajudou a construir um Brasil de riqueza cultural e dignidade. Tadeu Cavalcante , a quem dediquei o texto Circo Liliane, é meu primo(ele é irmão de Graça Padilha).

Luiz Orleans disse...

"Maiei" em vários circos que apareceram em Delmiro. ficava calado quando os palhaços perguntavam alguma coisa ao público, pois era sacanagem na certa. Mas era ótimo, mesmo com essa pobreza de circo mambembe, com as histórias de leões famintos e os súbitos sumiços de gatos e cachorros na vizinhança (sic). Teve uma vez que nem o leão aguentou a dieta, dando-lhe "pela"... Há alguns dias atrás levei meu filho ao circo, em São Gabriel, Bahia. Numa escapulida, em meio à campanha; fui ser pai presente. Dimitri não fica quieto em lugar algum, tendo ido parar no palco para participar da zueira com os palhaços. Ficou na gozação, é criança.
Deus salve os palhaços e proteja os santos idiotas. Detalhe: falo dos altistas e dos gênios que se divertem em seus mundos insólitos. forte abraço @luizorleans1984

Eduardo Menezes disse...

É verdade Edmo, o nome de Gino era Cícero, eu não tava lembrado disso.

César, interessante uma postagem sobre o Gino de Lira, mas não lembro nada sobre ele, a não ser o que já fale, quem sabe se Edmo pode escrever sobre ele.

No circo de Joval tinha um bailarino chamado Aloísio Marvel, ou coisa assim, que depois de ir embora participou de uma das aberturas do FANTÁTICO, da Globo. Não tenho certeza, mas acho que ele morreu de AIDS, alguém me disse isso já faz um tempão.

César Tavares disse...

Boa lembrança do Eduardo: Aloísio Marvel. Andei pesquisando na net na tentativa de resgatar alguma imagem ou texto sobre o mesmo, mas até agora não encontrei.

Anônimo disse...

boa tarde, eu estava em busca de fotos antigas para restaurar e acabei escolhendo algumas do seu blog, restaurando uma, entre em contato comigo via e-mail, que eu te mando a foto ja tentei achar seu e-mail mas tive sucesso. meu nome é antonio DF
SUCESSO NO BLOG!

millika20@hotmail.com

bill soares disse...

sou bill soares, músico artista plástico e moro em são paulo desde 1973, fiz parte da trupe do circo teatro pavilhão nacional!!! trabalhava com minha banda "the lions" na tv jornal do comércio em recife no programa infantil a cidade encantada e um amigo convidou para o circo, fui encontra-los na cidade de salqueiro PE onde estava armada a lona furada muito pobre, me encantou de cara!!! lá encontrei o luiz ou luiza (como chamávamos) bailarino que havia trabalhado como coreógrafo e bailarino, na tv jornal, era o primeiro travestir que vi até então era 1971 acho... encontrei o gino de lira também que já havia conhecido cantando no programa em que eu tocava com a banda , acompanhei ele muitas vezes na Tv, seu joval e sua esposa e filha que fazia parte do elenco das peças teatrais... uma experiência inequecível, viagei com eles por cidades do ceará, brejo santo, barbalha e crato onde minha mulher ficou grávida e tive que abandonar o circo pois éramos muito jovens ela tinha apenas 17 anos...
salve seu joval, gino de lira, luiz e toda trupe que fizeram parte deste sonho!!!

ver link do meu trabalho atual
http://www.temmais.com/blog/denisecorrea/?param=0211

http://www.vademetro.com.br/agenda/catraca-livre/evento/lixo-de-cacambas-da-vila-madalena-vira-arte-no-ccrv

Anônimo disse...

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GINO DE LIRA disse...

QUE SAUDADES DAQUELES BONS TEMPOS FIQUEI TÃO EMOCIONADO QUANDO LI ESSE COMENTÁRIO FALADO SOBRE MINHA PESSOA. SOU CICERO F. DA SILVA ( GINO DE LIRA ).

César Tavares disse...

Grato pela visita e comentário caro Gino de Lira. Mesmo uma postagem tão antiga do blog ainda foi capaz de resgatar suas lembranças. Marcastes época na memória coletiva delmirense.

Unknown disse...

Porque não podíamos pagar, Ezequiel, meu irmão mais velho (e mais corajoso), "maiava" (entrava por baixo da lona), e ia até a portaria, onde eu já estava esperando. Perguntava ao porteiro, se eu poderia entrar no lugar dele, pois mamãe mandou chamá-lo. O porteiro concordava, eu entrava, e Ezequiel maiava novamente.